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Uma realidade cortante

Andréa Brêtas utiliza as lentes da câmera para trazer à tona o tema da mutilação genital feminina em exposição de fotos em preto e branco, de mulheres africanas, no Centro Cultural dos Correios Niterói | Foto: Andréa Brêtas

Por Affonso Nunes

Fotógrafa premiada, a carioca empreendeu mais que uma viagem física quando partiu para a África a fim de registrar, com suas lentes, o o tema da mutilação genital feminina, prática concentrada em 30 países na África e no Oriente Médio, e alguns lugares da Ásia e América Latina. Uma violência contra a mulher que precisa cessar.

Mesmo classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma violação aos direitos humanos, ainda é praticada por muitos países e, culturalmente, é vista como uma tradição, um rito de passagem da vida infantil a vida adulta para as mulheres. Acontece, porém, contra a vontade delas na maioria das vezes. "Senti que me cortavam a carne, os órgãos genitais. Ouvia o ruído da lâmina que ia e vinha. Depois não senti mais nada ...porque desmaiei", relata uma vítima em depoimento colhido por Andréa Bretas.

Com formação em Direito, a fotógrafa viajou à Namíbia e ao Quênia para contar essa história que pode ser vista na fotos em preto e branco de mulheres e crianças africanas na exposição "Pranto", que ocupa quatro salas dos Correios Niterói a partir deste sábado (28).

"Quero contar a história das mulheres que sofrem violência, sejam elas quem forem, pelas lentes da minha câmera, e escolhi as que sofrem mutilação genital feminina, prática que atinge mais de 200 milhões de mulheres em mais de 90 países no mundo, 29 deles na África.

Ao escolher fotografar na Namíbia e no Quênia, Andréa quis estabelecer um contraponto bem nítido do olhar dessas mulheres. "Na Namíbia, não há mutilação. Estive lá e fiz fotos incríveis. Então, viajei para o Quênia, onde a prática é realizada, de forma tão gritante, que acreditam que 'só uma mulher cortada é uma boa mulher'. Em Enugu, estado da Nigéria, por exemplo, soube de uma menina de oito dias de nascida que foi batizada e mutilada no mesmo dia", afirma.

Segundo o Unicef, a mutilação genital feminina, a cada ano, atinge cerca de 3 milhões de meninas, antes de completar 15 anos.

"Pranto" estará em cartaz em duas datas importantes: 6 de fevereiro, Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina; e 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Em ambas as datas, Andréa Brêtas estará presente para visita guiada e bate-papo com outros profissionais para falar sobre o tema.

SERVIÇO

PRANTO

Espaço Cultural Correios Niterói

(Av. Visconde de Rio Branco, 481 - Centro)

De 28/1 a 11/3, das 13h às 18h

Entrada franca