Por: Rodrigo Fonseca | Especial para o Correio da Manhã

A maior diversão está só começando

Débora Falabella e Isaac Amendoim integram o elenco da adaptação de HQs de Chico Bento para o cinema | Foto: Fábio Braga/Divulgação

Celebrando os números astronômicos de "Ainda Estou Aqui" (3 milhões de ingressos vendidos) e de "O Auto da Compadecida 2" (a caminho de 1,5 milhão de pagantes), este país tem muita coisa boa a oferecer ao circuito exibidor em 2025, diante da força de títulos já no forno, como "Time To Change", de Sabrina Fidalgo; "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho; e "Deus Ainda É Brasileiro", de Cacá Diegues. Hollywood tem "Superman: Legacy", de James Gunn, para lançar, além do novo "Karate Kid", chamado "Legends", com Ralph Macchio e Jacki Chan juntos, a honrar a memória do Senhor Miyagi.

Noutras latitudes estrangeiras, o sul-coreano Bong Joon Ho, ganhador do Oscar por "Parasita" (2019), sai enfim da toca, e lança a sci-fi "Mickey 17", com Robert Pattinson, em abril. Da Alemanha, vem "The Light", novo trabalho de Tom Tykwer (de "Corra, Lola, Corra"), na abertura da Berlinale, no dia 13 de fevereiro. A França tá vindo aí com a biopic em duas partes "De Gaulle", de Antonin Baudry, e com a fantasia "Kaamelott: The Second Chapter", sobre a Távola Redonda. Antes disso, há uma massa de produções de peso, das mais variadas origens, para mobilizar o circuito.

Esse bonde começa a sentar praça hoje, com a vinda do possante "Nosferatu", de Robert Eggers, com Lily-Rose Depp a fugir de um Drácula carcomido, numa homenagem cinéfila ao expressionismo alemão, que conta com o ator Bill Skarsgard como vampiro, o Conde Orlok. Hoje também entra em cartaz o thriller político "Encontro Com O Ditador", do cambojano Rithy Pahn, expondo feridas causadas pelo governo de Pol Pot (1925-1998) sob a ótica do jornalismo. Irène Jacob é sua estrela principal.

Bons augúrios vão trazer alegrias ao mercado exibidor nacional a partir do dia 9 quando o trator baseado nas HQs de Maurício de Sousa "Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa", de Fernando Fraiha, entrar em cartaz. Apoiado numa meticulosa fotografia de Gustavo Hadba, o longa acompanha a luta do pequeno Chico (Isaac Amendoim) para impedir a derrubada de uma árvore em seu lar, a Vila Abobrinha. Um empreendedor picareta (papel que Augusto Madeira encampa em estado de graça) vai tentar dar cabo da fonte das amadas goiabas do caipira mais famoso dos quadrinhos.


 

Fornada quente de iguarias

Blindado | Foto: Divulgação

BABY, de Marcelo Caetano (Brasil): Xodó latino de Cannes, onde brilhou na Semana da Crítica, esta produção ganhou o troféu Redentor de Melhor Filme no festival do Rio, empatado com "Malu". Narra o processo de amadurecimento do jovem Wellington, que sai de um reformatório e conhece o afeto numa São Paulo repleta de solidão e de percalços. Um homem mais velho, michê, será seu tutor. João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro (afiado em cena) são os astros da fita. Destaque para a atuação de Ana Flavia Cavalcanti. Quando: 9 de janeiro

BABYGIRL, de Halina Reijn (EUA): Laureada com o troféu Copa Volpi do Festival de Veneza, Nicole Kidman implode em cena, numa composição tão radical quanto a de "Dogville" (2003) ao expor o calvário sentimental de sua personagem, a executiva Romy, iniciado quando passa a ter um romance com um estagiário mais moço, Samuel (Harris Dickinson). O casamento dela com o diretor de teatro Jacob (Antonio Banderas) flui com equilíbrio e aparente harmonia, com gozos que ela complementa com masturbações. Tudo no lar deles obedece a parâmetros de respeito até a trombada com Samuel. Do primeiro beijo à primeira transa, tudo passa a seguir uma trilha de descontrole, ameaçando Romy. Quando: dia 9

A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO ("The Seed Of The Sacred Fig"), de Mohamad Rasoulof (Irã, Alemanha): Este estudo sobre a metástase do fundamentalismo saiu de Cannes com o Prêmio Especial do Júri, o Prêmio do Júri Ecumênico e o Prêmio da Crítica. É um dos longas mais cotados para competir pelo Oscar de 2025. Em sua trama, um juiz entra em paranoia ao se sentir perseguido e começa a se voltar de forma violenta contra suas filhas e sua mulher. Quando: 9 de janeiro

REDENÇÃO ("Maixabel"), de Iciar Bollaín (Espanha): Lá se vão quase quatro anos desde que este drama histórico concorreu à Concha de Ouro de San Sebastián apoiado no carisma da atriz Blanca Portillo. Ela encarna a ativista Maixabel Lasa, que busca reconciliação com os responsáveis pela morte de seu marido, uma vítima de terrorismo. Sua morte é parte das ações promovidas pelo grupo separatista Euskadi Ta Askatasuna (ETA). Quando: 16 de janeiro

MISERICÓDIA ("Miséricorde"), de Alain Giraudie (França): A eleição para o posto de "filme do ano" pela revista "Cahiers du Cinéma" garantiu visibilidade a este thriller fino. Em sua trama, Jérémie (Félix Kysyk) volta à sua cidade natal para o funeral do seu primeiro patrão, o padeiro do vilarejo. Ao chegar, decide permanecer por mais algum tempo ao lado da viúva, Martine (Catherine Frot). Essa presença, no entanto, acaba perturbando o ambiente ao criar uma desavença com o filho da mulher, Vincent (Jean-Baptiste Durand). Um misterioso desaparecimento, um vizinho ameaçador e o padre local com estranhas intenções fazem a estadia de Jérémie tomar um rumo inesperado... e infernal. Quando: 16 de janeiro

MARIA CALLAS, de Pablo Larraín (EUA e Alemanha): Depois de "Jackie" (2016), com Natalie Portman vivendo Jacqueline Kennedy, e "Spencer" (2021), com Kristen Stewart no papel de Lady Di, o diretor chileno utiliza todo o talento de Angelina Jolie para reviver os momentos finais da maior cantora de ópera do mundo, Maria Callas (1923-1977). Quando: 16 de janeiro

MMA - MEU MELHOR AMIGO, de José Alvarenga Jr. (Brasil): Marco Mion rouba a cena em tudo o que faz, na fase de apogeu em que vive desde sua chegada ao "Caldeirão" da Globo. Brilhou até em comercial com Sylvester Stallone. Agora é a hora e a vez de ele virar astro de cinema, num Rocky Balboa nacional, sob a realização do diretor de "Os Normais". Mion vive um lutador profissional que, às vésperas de abandonar os octógonos, descobre ser pai de um menino autista que precisa dele. Quando: 16 de janeiro

ANORA, de Sean Baker (EUA): O ganhador da Palma de Ouro de Cannes pode fazer a festa na cerimônia do Globo de Ouro, concorrendo a cinco prêmios. Sua protagonista é uma stripper (interpretada por Mikey Madison) que se mete numa série de peripécias arriscadas ao se casar com um milionário russo doidão. O realizador de "Projeto Flórida" (2017) renova seus votos com a estética indie americana ao driblar correções políticas a partir de um enredo que lembra Cinderela, mas sem sapatinho de cristal. Quando: 23 de janeiro

KASA BRANCA, de Luciano Vidigal (Brasil): A vertente histórica do naturalismo, que vem lá da prosa literária, com "O Cortiço", é usada aqui numa perspectiva solidária (e não catastrofista), a fim de ilustrar a vida de três jovens amigos em Mesquita, num cotidiano de reeducação afetiva: Dé (Big Jaum), Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco, hilário). O trio vive os perrengues de uma cidade que isolou bairros e municípios distantes do mar, padecendo de um serviço de saúde deficitário na rede hospitalar pública. Apesar das várias dificuldades, aquela galera não esmorece. Seu realizador ganhou o troféu Redentor de Melhor Direção no Festival do Rio. Quando: 23 de janeiro

TODO MUNDO AINDA TEM PROBLEMAS SEXUAIS, de Renata Paschoal (Brasil): Inspirada por Domingos Oliveira (1935-2019), essa narrativa em segmentos propõe uma antologia sobre o benquerer com quatro histórias independentes, todas centradas em inseguranças e desejos. A melhor delas é a de um casal que se fragiliza quando decide abrir a relação para incluir uma nova integrante. Quando: 30 de janeiro

A VERDADEIRA DOR ("The Real Pain"), de Jesse Eisenberg (EUA): A nova empreitada atrás das câmeras do astro de "A Rede Social" (2010) é de uma precisão suíça e de uma coragem espartana. O aspecto mais corajoso é a exploração de uma veia cómica para falar tanto de fantasmas do Holocausto quanto de vazios existenciais. Com enquadramentos rigorosamente lapidados (à altura dos olhos de seus personagens), ele constrói uma comédia dramática de atuações convulsivas sobre a viagem dos primos David e Benji Kaplan (vividos pelo próprio Eisenberg e por uma força da natureza chamada Kieran Culkin) por uma Polônia da rota dos expurgos nazistas. Quando: 30 de janeiro

5 DE SETEMBRO ("September 5"), de Tim Fehlbaum (Alemanha, EUA): Faz tempo que o jornalismo não ganhava um filme tão rico e tão tenso centrado em seus meandros. Este thriller revive a noite de 5 de setembro de 1972, na Alemanha, quando um grupo terrorista invadiu a Vila Olímpica dos Jogos de Munique e fez atletas da delegação israelense reféns. Apoiado num elenco em estado de graça, com destaque para Peter Sarsgaard e Leonie Benesch, a produção retrata, num prazo de horas, a ação dos jornalistas esportivos que tiveram que mudar radicalmente suas pautas para noticiar o sequestro em tempo real. Quando: 30 de janeiro

FLOW, de Gints Zilbalodis (Letônia): Nesta animação sem diálogos, indicada ao Globo de Ouro (e cotada para o Oscar), uma nova Arca de Noé - mas sem elementos místicos - salva um bando de animais de um dilúvio, num futuro distópico sem humanos. Um gato, o protagonista, terá que lidar com o resto da bicharada para chegar a um lugar seguro... em paz. Quando: 30 de janeiro

BLINDADO ("Armored"), de Justin Rout (EUA): Agora que Sylvester Stallone virou cult, com homenagem em Cannes (em 2019) e filme de encerramento no TIFF -Toronto Film Festival, é provável que ele abra o ano lotando salas no papel de um ladrão que acossa um segurança de transporte de valores (Jason Patric). Quando: 6 de fevereiro

EMILIA PÉREZ, de Jaques Audiard (França): Atração de abertura do Festival do Rio, o musical parisiense vendeu 1.067.268 entradas em seu país. Lá mesmo, em Cannes, na disputa pela Palma de Ouro, Audiard ganhou o Prêmio do Júri pela saga (cantada em espanhol) de um chefão do tráfico do México, chamado Manitas, que transiciona e assume identidade feminina, renascendo como Emilia. O papel é da espanhola Karla Sofía Gascón, que saiu da Croisette com um prêmio coletivo de atuação feminina compartilhado com Adriana Paz, Zoe Saldaña e Selena Gomez. As duas últimas disputam o Globo de Atriz Coadjuvante. Quando: 6 de fevereiro