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Inteligência Artificial substituirá professor? Empresário da Educação explica ponto de vista

Daniel foi um dos fundadores da Ânima Educação e diretor-presidente até 2018 | Foto: Divulgação

Em meio a um cenário de incertezas para o mercado de ensino superior privado, a Ânima Educação, dona de marcas como Anhembi Morumbi, São Judas e UniBH, vai trocar a presidência, que passará a ser ocupada por uma executiva mulher vinda de fora da família fundadora, pela primeira vez na história da companhia.

A argentina Paula Harraca, que atuou por 20 anos na ArcelorMittal, chega no momento em que as empresas do setor enfrentam pressão do MEC (Ministério da Educação), com a recente suspensão da criação de novos cursos de graduação a distância, e judicialização dos pedidos de abertura de cursos de medicina fora do Mais Médicos, entre outras transformações.

Apesar do horizonte nublado, Daniel Castanho, presidente do conselho de administração da Ânima, afirma que a empresa está preparada para enfrentar cenários mais chuvosos. Nos últimos trimestres, a companhia passou por um processo de redução do endividamento arrastado desde a aquisição da Laureate Brasil em 2020.

"Acabamos de passar por um momento importante de estruturação. Passou FIES, pandemia, a compra da Laureate, a integração de sistemas, consolidação, alavancagem. Tinha um vagão descarrilhado, dando faísca, o Marcelo [Basttistella Bueno, atual CEO e sócio-fundador, que fará a transição até o fim do ano] colocou nos trilhos. Em que momento estamos? Estamos vendo chuva ali na frente, mas estamos nos trilhos justamente para isso", diz.

O contexto que Harraca vai encontrar é também de profunda transformação com o avanço da inteligência artificial, que Castanho diz ver apenas como uma ferramenta para tirar o professor de funções padronizadas. "A inteligência artificial não vai ser usada para substituir o professor, mas para potencializá-lo", diz.

Como vocês têm olhado para o tema da reforma do ensino médio? Como ela impacta o ensino superior, que forma os professores?

Daniel Castanho - No primeiro momento, quando você pensa que existe a flexibilidade curricular, ela vai de encontro ao que acreditamos, inclusive, o nosso E2A, um projeto que tudo vai na linha da personalização, de fazer com que o aprendizado tenha mais significado para o aluno, de não entregar coisas iguais para todos. Agora, o nosso medo e a nossa consideração é como isso é tratado individualmente em cada escola, como vai ser a implementação.

E as mudanças no ensino a distância? O MEC anunciou recentemente uma suspensão da criação de cursos. Isso pegou todos de surpresa?

Eu falo, já há alguns anos, que nós acreditamos que o termo EAD [ensino a distância] vai acabar. A gente sempre fala do híbrido. É muito mais sofisticado do que isso. Pensa no que é o presencial, o a distância, com interação, sem interação, síncrono ou assíncrono. Uma palestra presencial para 4 mil pessoas pode ser pior do que uma conversa [de videochamada] em que eu estou olhando no seu olho. O que é mais eficiente? [Na videochamada], estamos falando com interação, a distância e síncrono. Tem a possibilidade de fazer perguntas.

Então, acreditamos que o MEC está revendo, porque hoje o EAD deveria ser considerado apenas como um critério de possibilidade de abertura de cursos. Só. O que você vai fazer ali pode ser com integração ou sem integração, síncrono ou assíncrono. Aula 100% gravada e sem interação é diferente de aula síncrona com perguntas e respostas. Vamos chamar tudo de EAD? Não. Vamos chamar de ensino. É ensino de perto com uso de tecnologia.

Se a sua licença vai ser presencial ou a distância, é outra coisa. Mas como será o ensino como um todo? A gente não vai nem lembrar quais foram as conversas presenciais ou a distância. Se amanhã eu disser que eu falei com você, alguém vai perguntar se foi presencial ou a distância? Não. Nós conversamos.

Então, o governo suspende, a gente acha uma boa. Para quê? Para que ele repense. E provavelmente, o que a gente acredita, é que, quem sabe, venha algo mais parecido com o que estamos fazendo. E aí se consegue regular todo o setor para que ele tenha uma qualidade melhor, uma experiência e um foco no aprendizado do aluno muito maior do que tem hoje.

E a criação de cursos de medicina, que está enfrentando um cenário judicializado?

Para explicar de maneira rápida, ficou congelado e não podia pedir cursos de medicina [pelo MEC]. O que todo mundo fez foi entrar pelo Judiciário para tentar a autorização. Hoje tem vários processos. O que o MEC está tentando fazer é como resolver esse passado dessas questões judicializadas e, ao mesmo tempo, caminhar da maneira que ele acredita, que seria através do Mais Médicos. É esse o impasse.

Sobre a inteligência artificial, quais são as oportunidades e preocupações na sala de aula?

O principal dilema é, uma vez que você começa a usar, se não usa com eficiência, o custo é alto em relação ao retorno. Precisa mensurar, senão é igual marketing, você gasta milhões e não tem bom resultado. Não é o orçamento de marketing que define se você está sendo eficiente, assim como a inteligência artificial.

Eu digo que a Ânima é um grande navio, e estamos fazendo estratégias jet ski. Com 200 projetos, vamos entendendo o que funciona em cada área. Há algumas premissas, tanto na área administrativa, para ganhar eficiência, como na acadêmica.

Por Joana Cunha (Folhapress)