Suécia pede para entrar na Otan, e Putin fala em reação proporcional
Por: Igor Gielow
Confirmando as expectativas, a Suécia se uniu à Finlândia e pediu formalmente nesta segunda (16) para entrar na Otan, a aliança militar ocidental criada para combater a expansão soviética na Europa Ocidental em 1949, cuja missão foi renovada pela invasão russa da Ucrânia.
"A Europa, a Suécia e o povo sueco estão vivendo agora numa nova e perigosa realidade", disse a primeira-ministra Magadalena Andersson ao Parlamento em Estocolmo. O processo de adesão dos dois novos membros, se superar a oposição já colocada pela integrante Turquia, será acelerado, diz a Otan.
Em sua primeira fala pública após os nórdicos confirmarem sua intenção de aderir à Otan, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a medida "certamente provocará nossa resposta".
"Qual resposta será... Veremos quais ameaças são criadas para nós", disse em reunião da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma aliança militar vagamente semelhante à Otan, que congrega seis Estados que faziam parte da União Soviética e tem a Sérvia como observadora.
A própria Andersson já indicou um caminho intermediário para não provocar ainda mais os russos. Ela afirmou que não haverá bases multinacionais da Otan ou armas nucleares em seu território, caso a inscrição seja aprovada.
Isso daria a medida, em tese, da proporcionalidade sugerida por Putin.
A Finlândia, que tem 1.300 km de fronteira com a Rússia, deve ir pelo mesmo caminho, para atenuar a temperatura da crise. Putin, por sua vez, se queixou de que seu país "não tinha problemas" com os dois novos candidatos a membro da aliança de 30 integrantes.
O desejo da Ucrânia de entrar na Otan, estabelecendo assim forças ocidentais na sua maior fronteira a oeste, foi um dos motivos centrais alegados pelo Kremlin para iniciar o que chama de operação militar especial, no fim de fevereiro.
A decisão sueca veio após um dia após a Finlândia ratificar o pedido que havia anunciado na quinta (12), embasada em um relatório suprapartidário divulgado na sexta (13) e na mudança de posição pela neutralidade militar do país pela agremiação majoritária, o Partido Social Democrata, no domingo (15).
Com isso, 213 anos de não alinhamento na área de defesa foram deixados de lado. Já os finlandeses abandonaram a engenharia de serem ocidentais com boas relações com a Rússia, que operavam desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, na qual lutaram contra a União Soviética.
Apesar da fala comedida de Putin, sugerindo que a ideia de colocar armas nucleares perto das fronteiras dos nórdicos talvez seja só uma ameaça, os vizinhos de Suécia e Finlândia prometeram assistência militar caso os países sejam atacados por Moscou durante o processo de adesão.
Os governos da Dinamarca, Noruega e Islândia fizeram o anúncio, mais retórico do que prático: Finlândia e, principalmente, Suécia são países muito mais capazes militarmente do que os vizinhos. Ambos inclusive já faziam parte de diversas estruturas de comunicação da Otan, com quem se exercitavam frequentemente.
O peso militar que adicionam ao bloco é importante pela posição estratégica que ocupam no mar Báltico, próximo das fronteiras russas e, principalmente, do militarizado encrave de Kaliningrado, entre a Lituânia e a Polônia.
Deve haver algum incremento no gasto militar. Os 29 países da Otan tinham um orçamento de defesa de US$ 360 bilhões em 2021 –os EUA, sozinho, somavam US$ 811 bilhões à conta, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.
Finlândia e Suécia trazem 4% de aumento ao bolo extra-EUA, isso contando seus níveis atuais de dispêndio –Helsinque gasta 2% do seu PIB, a meta da Otan, com defesa, enquanto Estocolmo ainda pode aumentar o 1,3% que atualmente emprega no setor. Hoje, um terço dos países do clube cumpre o requisito estipulado em 2014 para vigência até 2025.
Antes de pensar nisso, contudo, há a Turquia. O presidente do país, Recep Tayyp Erdogan, disse que não poderia aceitar os nórdicos porque eles são "hospedarias de organizações terroristas" –no caso, opositores de seu governo. No fim de semana, houve conversas entre turcos, suecos e finlandeses em Berlim, e nesta segunda o ministro da Defesa da Suécia, Peter Hulqvist, disse que "vamos mandar um grupo de diplomatas para dialogar com a Turquia".
Os EUA, verdadeiros donos da bola na fragmentária aliança, disseram estar confiantes em que Ancara não irá ao fim fazer uso do poder de veto, que todo membro da Otan tem. A Turquia tem um longo histórico de desavenças, ora com Washington, ora com rivais internos na aliança como a histórica adversária Grécia ou a França.
Nesse processo, aproximou-se de forma ambígua Rússia de Putin, com quem mantém uma tensa parceria em áreas como as guerra civis da Síria e da Líbia, ou no sul do Cáucaso, além de ter projetos energéticos comuns. Ao mesmo tempo, apoia Kiev na guerra.