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Biden pede união contra 'veneno da supremacia branca' em visita a local de massacre

| Foto: Reprodução

Por: Rafael Balago

O presidente dos EUA, Joe Biden, fez um pedido de união para combater a supremacia branca nesta terça-feira (17) em Buffalo, NY, e chamou essa ideologia de veneno. Há três dias, um atirador, motivado por ideias racistas, matou 10 pessoas em um supermercado da cidade.

O líder americano voltou a classificar o caso de terrorismo doméstico. "O ódio não vai prevalecer. A supremacia branca não dará a palavra final. Foi um ataque racista, transmitido ao vivo para o mundo. O que aconteceu aqui foi terrorismo, terrorismo doméstico", disse.

A supremacia branca é um veneno, correndo pelo nosso corpo político, que tem crescido na frente dos nossos olhos", discursou Biden.

"Temos que dizer claramente que a ideologia da supremacia branca não tem lugar na América. É a hora de pessoas de todas as raças, de todas as origens, tomarem a voz como a maioria da América e rejeitarem a supremacia branca. Essas ações que vimos nesses ataques cheios de ódio representam a visão de uma minoria. Não podemos deixar elas destruírem a alma da América."

"Silêncio é cumplicidade. Não podemos ficar quietos. Temos de nos recusar a viver em um país onde pessoas negras indo ao mercado podem ser abatidas por armas de guerra usadas em um ato racista. Temos de nos recusar a viver em um país onde o ódio e as mentiras são usados para obter o poder. E lucros", prosseguiu o presidente.

Ao lado da primeira-dama, o presidente foi ao memorial montado perto do supermercado onde ocorreu o ataque. Depois, conversou com familiares das vítimas e equipes de resgate e, no começo da tarde, fez um discurso, no qual falou sobre a história das vítimas.

No sábado (14), Payton Gendron, de 18 anos, abriu fogo contra frequentadores de um supermercado no estado de Nova York, deixando, além dos mortos, três feridos. O atirador, que transmitiu o atentado ao vivo pela internet, publicou um manifesto para justificar o ataque, no qual cita teorias racistas, como a de que os negros estariam tomando o lugar dos brancos na sociedade. Das 13 pessoas atingidas, 11 eram negras, e duas, brancas. Gendron é branco.

Antes do ataque, o atirador postou um manifesto em uma rede social em que defendia ideias racistas, como a de que os negros estariam tomando o lugar dos brancos nos EUA, em uma teoria conspiratória chamada de "grande substituição".

A ideia de que os brancos estão sob ameaça frente ao aumento da população de negros, latinos e imigrantes é repetida, de modo direto ou indireto, por alguns políticos republicanos e apresentadores da Fox News, especialmente Tucker Carlson, um dos principais âncoras da emissora.

Além de pedir união contra o ódio, Biden usou o discurso para lembrar a história de vida das vítimas e oferecer condolências. Ele falou pouco sobre medidas práticas. "Podemos manter armas de assalto fora das nossas ruas. Fizemos isso antes. Passamos uma lei sobre crime e a violência caiu. Tiroteios diminuíram", afirmou.

Também defendeu medidas para conter o uso da internet para recrutar terroristas e estimular novos ataques de ódio, mas não detalhou ações para isso.

Uma medida defendida para reduzir o risco de ataques é ampliar a checagem de antecedentes, evitando que pessoas com histórico de violência ou problemas mentais comprem uma arma. Projeto de lei federal sobre o tema foi aprovado em 2021 na Câmara, mas está parado no Senado.

O direito ao porte de armas é garantido pela 2ª Emenda da Constituição, e algumas leis federais também regulam a questão. Mudanças são difíceis porque os republicanos, com poder no Senado para barrar propostas que alterem a Carta dos EUA, colocam as armas como símbolo de liberdade a ser defendido.

Em abril deste ano, a Casa Branca anunciou medidas contra as "ghost guns", as armas fantasmas, sem registro, que podem ser montadas em kits com peças separadas. O Departamento de Justiça passou a considerá-los armas de fogo e a exigir checagem de antecedentes na hora da compra.

Apesar de o governo americano ter dado grande atenção ao terrorismo internacional depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, as estatísticas mostram que houve muito mais ações violentas realizadas por ativistas americanos na última década.

Um levantamento feito pela entidade ADL (Liga Anti-Difamação) apontou 450 assassinatos cometidos com motivação ligada ao extremismo político no país de 2012 a 2021. Destas, 75% tinham relação com ideias radicais de direita, como o supremacismo branco (presente em 55% dos casos). Ataques ligados a visões radicais do islamismo representaram 20% dos casos, e 4% foram relacionados ao extremismo de esquerda.