Populista Rodolfo Hernández dispara e ameaça mudar eleição presidencial na Colômbia

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Por: Sylvia Colombo 

Nos últimos meses, as pesquisas à Presidência da Colômbia mostraram poucas mudanças, indicando um segundo turno quase certo entre o esquerdista Gustavo Petro e o direitista Federico "Fico" Gutiérrez.

Agora, porém, um novo personagem vem ganhando força. De estilo populista, discurso xenofóbico e misógino, além de frases curtas de efeito, vídeos populares no TikTok e estilo extravagante –chegou a dar uma entrevista à CNN de pijama–, Rodolfo Hernández escala rapidamente nas sondagens.

Desbancou do terceiro lugar o centrista Sergio Fajardo, ex-prefeito de Medellín conhecido por reformas urbanísticas que tornaram a cidade um modelo, e agora rouba votos de Fico –Petro, por sua vez, perdeu três pontos percentuais. No último levantamento da Invamer, Petro segue em primeiro, com 40,6%, Fico tem 27,1%, e Hernández, 20,9%, índice bem superior ao que tinha em março, quando somava apenas 9%.

Para Daniel Coronell, principal analista político da Colômbia e editor do site Los Danieles, Hernández encarna um voto de protesto "perfeitamente compreensível". "Há muitos que não querem ver a impunidade dos poderosos premiada nem o novo manchado pela guerra", afirmou ele, em referência tanto à direita quanto à esquerda. "O eleitor de Hernández está cansado das fricções políticas desses grupos. Mas não parece pensar a longo prazo, já que o remédio de última hora que oferece pode acabar pior que a doença".

Carlos Lemoine, do Centro Nacional de Consultoria, afirma, por sua vez, que o crescimento de Hernández demonstra que a mensagem dele está se conectando com o que parte da população pensa.

Entre as promessas do candidato está o corte de gastos, como carros e motoristas de congressistas, a redução do número de embaixadas e consulados e, de maneira genérica, "o fim da corrupção". Ele também prometeu fazer uma "limpeza" na Federação Colombiana de Futebol, que considera corrupta.

Por outro lado, é a favor da legalização das drogas, como forma de acabar com o narcotráfico.

Quando questionado sobre o uso de palavrões e adjetivos pouco delicados, afirmou ser espontâneo, alguém que "fala dessa maneira com amigos". Por se expressar assim, foi processado em Bucaramanga –e perdeu.

Hernández disse que o Corpo de Bombeiros local era formado por "gordos" e "preguiçosos".
Seu estilo de campanha, que guarda semelhanças com os eventos de Jair Bolsonaro no Brasil, é novidade na Colômbia: nas redes sociais, convoca marchas de motos e caminhonetas, as "rodolfonetas".

"Bem-vindos à caravana rodolfista. Participem de carro, caminhão, trator, moto, cavalo, burro ou mesmo a pé", dizem os posts. Nos comícios, apoiadores usam camisetas com frases como "eu apoio o velhinho", referência aos 76 anos de idade de Hernández. Em cada lugar que visita, usa chapéus e roupas locais.

Assim como outros populistas, costuma dizer que não está na política por dinheiro. Isso, afirma ele, já tem. "Trabalhei para comprar as coisas que hoje possuo", afirmou, referindo-se à cobertura em que vive no bairro mais nobre da cidade. Alguns veículos de comunicação o chamam de "Trump colombiano".

Filho de um alfaiate e de uma gerente de tabacaria, Hernández fez fortuna no ramo imobiliário no Departamento de Santander, no norte do país. Apesar de se vender como "outsider", não é um desconhecido no meio político.

Foi prefeito de Bucaramanga, capital da região, e deixou o cargo bem avaliado, com cerca de 50% de aprovação popular, mesmo após ter sido alvo de uma investigação por irregularidades na contratação de serviços públicos e favorecimento de familiares.

Quando convocado a responder o processo referente ao caso, renunciou. O caso ainda não foi concluído.

Em sua trajetória, há também eventos trágicos. Em 1994, a extinta guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) sequestraram seu pai, e Hernández pagou o resgate. Dez anos depois, o ELN (Exército de Libertação Nacional), guerrilha ainda ativa, sequestrou sua filha, morta pelos criminosos.

Ainda assim, Hernández não tem uma postura vingativa e promete mais empenho para implementar o acordo de paz com as Farc e retomar a negociação com o ELN. As críticas dirigidas ao atual presidente, Iván Duque, fortes, acusam-no de pouco fazer para pacificar o país.

Como o fenômeno é relativamente novo, não foram realizadas pesquisas com um cenário de segundo turno entre Petro e Hernández. Fico, atual segundo colocado, é apoiado apenas por parte dos uribistas, por não ser um afilhado direto do ex-presidente Álvaro Uribe. Se o bloco uribista transferir seu apoio para Hernández, ele poderia virar uma ameaça maior ao esquerdista, já que Fico estagnou nas sondagens.

Nos últimos dias, Hernández recebeu o apoio de Ingrid Betancourt, que tinha menos de 2% das intenções de voto e deixou a corrida eleitoral.

Apesar da cifra baixa, a agora ex-candidata carrega forte valor simbólico, por ter sido mantida refém pelas Farc durante anos. Para Coronell, um eventual governo Hernández já iniciaria com grandes dificuldades, já que ele não possui apoio no novo Congresso nem alianças com os tradicionais partidos do país. "Cairíamos no território do desconhecido", afirma.