Por:

China mira EUA ao reiterar apoio à Rússia durante a Guerra da Ucrânia

| Foto: Reprodução/ Twitter

Por: Igor Gielow

Cinco dias depois de reiterar sua oposição às pretensões americanas no Pacífico, a China deu mais um passo no balé geopolítico da Guerra Fria 2.0 com uma ligação do líder Xi Jinping para seu maior aliado, o presidente russo, Vladimir Putin.

"A China quer continuar a apoiar a Rússia em questões acerca de seus seus interesses centrais e grandes preocupações, como soberania e segurança", disse Xi a Putin. Em português: Pequim segue do lado de Moscou na Guerra da Ucrânia, ainda que isso não tenha divulgado pela mídia estatal dos dois países com todas as letras.

Não que fosse necessário. Desde o começo do conflito, os chineses buscaram uma posição de certo distanciamento, temendo os efeitos das sanções ocidentais sobre seus negócios –a China é grande parceira comercial russa, e empresas podem ser punidas por isso, embora o fluxo comercial só tenha aumentado após a guerra.

Xi recusou-se a condenar a invasão de 24 de fevereiro, tanto em discursos como em votos na ONU (Organização das Nações Unidas). Foi ameaçado por Biden para não ajudar Putin.

Progressivamente, virou crítico vocal das sanções, ao mesmo tempo que defende de forma anódina uma solução pacífica para a crise –quem não o faz?

Nesta quarta (15), voltou a dizer isso a Putin, no único trecho que serviu de destaque para a maior parte da mídia ocidental. Para Xi, segundo a rede estatal CCTV, Moscou e Kiev devem encontrar uma "maneira responsável" de encerrar as hostilidades. Como o russo vê isso, finalizando a conquista de Lugansk na base da força bruta, é outra questão.

Os chineses, cientes do crescente cansaço europeu com a guerra, se encastelaram ao lado do aliado. Vinte dias antes do começo do conflito, Xi e Putin firmaram um acordo histórico de amizade, aprofundando uma relação multifacetada –que, se não é uma aliança militar com vistas à Terceira Guerra Mundial como muitos temem, abriga sim aspectos de defesa.

Mais importante, a Ucrânia serve de experimento prático para as intenções de Xi em sua periferia estratégica, a absorção de Taiwan à frente. A ilha, que Pequim considera sua e rebelde, vive sob temor de invasão por parte da ditadura comunista, e a administração Joe Biden reforçou a promessa de apoio militar a Taipé se isso ocorrer.

Essa possibilidade sempre foi o principal fator dissuasório de uma ação militar chinesa, que muitos consideram inevitável no médio prazo.

Pequim tem testado com mais intensidade a defesa aérea taiwanesa com incursões e fez exercícios como advertência explícita aos EUA, em especial depois que Biden visitou Japão e Coreia do Sul com discurso belicista, incluindo manobras com os russos.

Por outro lado, ao examinar a reação ocidental ao ataque a Kiev, Xi pôde refazer cálculos para a hipótese de se aventurar contra Taiwan –embora as realidades políticas e econômicas sejam muito diversas na Europa e na Ásia.

Com efeito, a conversa Xi-Putin ocorre cinco dias depois do primeiro encontro dos chefes de Defesa de China e EUA, às margens de uma conferência do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos em Singapura. Nele, Wei Fenghe e Lloyd Austin reafirmaram suas divergências, em especial sobre Taiwan. A reunião, segundo relatos, foi tensa.

Desde que a Guerra Fria 2.0 foi lançada pelos EUA em 2017, como uma resposta à maior assertividade de Xi desde que assumiu o poder em 2012, chineses e americanos estão se estranhando em todos os campos de disputa possíveis.

Mas o conflito acabou tornando-se quente primeiro com o velho protagonista da primeira edição da disputa, Moscou, o que obrigou os EUA a se desviarem de sua prioridade máxima na Ásia –mas não muito, como a formação de uma liga de aliados anti-Pequim e acordos militares na região provam.

Os russos, por sua vez, mantiveram o sangue frio ao comentar o estado das relações com os americanos nesta quarta. "Comunicação é essencial, e no futuro nós ainda teremos de nos comunicar", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. "Os EUA não vão a lugar nenhum, a Europa não vai a lugar nenhum", afirmou.