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Engenharia genética: 'desextinção' do 'Lobo Terrível'? Não é bem assim...

Romulus e Remus encantaram a internet com sua pelagem | Foto: Divulgação/ Colossal Bioscience

Por Pedro Sobreiro

Nos últimos dias, a internet esteve em polvorosa com a notícia de que a Colossal Biosciences, startup americana de biotecnologia, teria supostamente trazido a primeira espécie de animal extinto de volta à vida por meio da engenharia genética.

A espécie em questão, anunciada pela empresa, é o Aenocyon dirus, popularmente conhecido como 'Lobo Terrível', um predador pré-histórico que está extinto há cerca de 10 mil anos.

O anúncio foi feito com a divulgação das imagens de Romulus, Remus e Khaleesi. Os três filhotinhos aparecem uivando e brincando com sua icônica pelagem branca. Eles foram nomeados em homenagem a lenda de Rômulo e Remo, os irmãos gêmeos que foram salvos por uma loba e fundaram Roma, e a Khaleesi é uma referência à personagem de Emilia Clarke, Daenerys Targaryen, que recebe o título de Khaleesi na série 'Game Of Thrones', que retrata o Lobo-Terrível como um aliado.

No vídeo divulgado pela empresa, eles usam o termo 'desextinção'. Porém, na verdade, ele não pode ser aplicado a este caso, já que os lobinhos não carregam o DNA original da espécie.

"Nesse processo de 'desextinção', a Colossal usou o DNA dos lobos-terríveis apenas como referência, para saber quais partes do DNA do lobo-cinzento deveriam ser modificadas para criar filhotes com características o mais próximas possível das da espécie extinta. Ao contrário do que muita gente imagina, o DNA dos lobos-terríveis não foi usado diretamente nessa edição genética. Todo o processo foi feito apenas com modificações no DNA de lobos modernos, sem usar nenhum material genético da espécie extinta. Como não carregam nenhum DNA original da espécie extinta, esses filhotes são mais uma recriação inspirada nos lobos-terríveis do que um verdadeiro retorno deles", explicou Eduarda Melo, Professora e Influenciadora Digital do canal Biologueirinha.

O processo envolveu a análise de dois fósseis, um de 13 mil e outro de 72 mil anos de idade. Os geneticistas coletaram dados do DNA encontrado nesses indivíduos e, com base nesses dados, eles 'editaram' o DNA de lobos comuns da atualidade para que eles trouxessem características funcionais similares ao da espécie extinta, como o tamanho mais avantajada do corpo, a mordida mais forte e a icônica pelagem branca.

Ou seja, na prática, eles 'tunaram' lobos modernos para ficarem parecidos com os lobos extintos.

A empresa também anunciou "ratos-mamutes", que seriam o primeiro passo para não apenas trazer os mamutes "de volta à vida", mas também para soltá-los na natureza. Mas a proposta é a mesma. Os ratinhos tiveram seu DNA alterado em laboratório com base no funcionamento do DNA extraído de mamutes congelados. Dessa forma, os camundongos apresentam uma pelagem mais chamativa e grossa.

No entanto, tanto os camundongos quanto os 'mamutes' seguem a mesma premissa dos lobos. São espécies atuais alteradas geneticamente, não animais trazidos de volta da extinção.