Mais de dois mil mortos

Terremoto no Marrocos é o mais letal do país desde 1960

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O tremor destruiu parte do antigo kasbah de Marrakech,

Vinte e quatro horas depois que o terremoto de magnitude 6.8 destruiu parte do antigo kasbah de Marrakech, a cidade antiga que é Patrimônio Mundial da Unesco, poucos dos 14 mil moradores já tinham conseguido dormir.

Os amigos Belameur Kamal, 23, e Amine el Mssiehe, 24, estavam falando de futebol na frente da enorme mesquita Moulay el Yazid, às 23h11 (19h11 no Brasil) de sexta-feira (8), quando a construção começou a rasgar a partir do alto. Pedaços da obra erguida entre 1185 e 1190 explodiam nas ruas, e os muros se dividiam ao meio até a nova fenda encontrar uma janela, cuspindo seu batente no chão.

"Foram 40 segundos tremendo tudo. A gente estava sentado em cima das motos e fomos jogados no chão", conta Kamal, que passou por um sismo em 2004 quando estava na escola. Na ocasião, porém, sua carteira e a de seus colegas apenas tremeu por cinco segundos.

Desta vez, há pelo menos 51 mortos na cidade. Contando as vilas adjacentes, os números são bem mais assustadores: 2.122 pessoas mortas e 2.421 feridos, segundo contagem mais atualizada do Ministério do Interior, fazendo deste o terremoto mais letal no país em 63 anos.

Entre o aeroporto —cheio de turistas deitados aguardando voos— e o kasbah de Marrakech, milhares de pessoas estavam acampadas nas ruas, principalmente em volta de áreas verdes e longe de muros.

Para chegar ao hotel bem no meio da cidade antiga, a reportagem precisou da ajuda de marroquinos para carregar pedras e remover pedaços de parede de forma que o carro pudesse passar pelas vielas. Não havia internet, postes de luz falhavam e a poeira levantada pelo terremoto ainda cobria os famosos gatos de Marrakesh —eles estão em cada esquina, e agora também sobre os escombros.

O terremoto ocorreu em Ighil, nas montanhas do Alto Atlas, cerca de 70 quilômetros a sudoeste de Marrakech, a uma profundidade de 18,5 quilômetros, às 23h11 no horário local (19h11 em Brasília). De acordo com as autoridades, as mortes se concentram nas províncias e municípios de Al Hauz, Marrakech, Uarzazat, Azilal, Chichaoua e Tarudant. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram cenários de devastação. Por; Ivan Finotti/ Folhapress