A guerra de pedras e tiros

Menos letal do que em Gaza, Cisjordânia vive clima de ódio

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Jovens palestinos atiram pedras contra soldados israelenses

Não há balas perdidas na Cisjordânia. A cada disparo, uma vítima. Os meninos que atiram pedras e queimam pneus na periferia de Ramallah dizem que se trata de um robô montado sobre um jipe das Forças de Defesa de Israel. "Ele nunca erra. Foi um robô que os americanos mandaram para eles, sempre acertam na perna", disse Mohammad, alegados 20 anos, enquanto se escondia dos soldados israelenses atrás de um velho tanque para transportar combustível na tarde ensolarada da última sexta-feira (20).

Do alto de um monte que serve de fronteira entre palestinos e israelenses na parte leste de Ramallah, militares armados com rifles de precisão e metralhadoras observam os adolescentes tentando acertá-los com pedras atiradas com fundas. Soldados descem o monte e se aproximam dos jovens palestinos numa tentativa de mantê-los a distância. Volta e meia, atiram contra eles.

Mohammad, que pouco antes contava do tal robô, foi baleado na perna direita. Ao menos cinco meninos que jogavam pedras contra os soldados foram atingidos por munição letal, quase sempre nas pernas.

Ainda que violentas, as pequenas escaramuças entre os jovens palestinos e os soldados israelenses na Cisjordânia parecem brincadeiras infantis quando comparadas à brutalidade que tomou conta de Israel e da Faixa de Gaza nas últimas duas semanas.

As mortes se acumulam aos milhares, e imagens trágicas de ambos os lados do conflito correm as redes sociais palestinas e israelenses alimentando o ódio mútuo, cada vez mais profundo, mais enraizado.

Latifa, 87, não sai mais de sua casa no campo de refugiados de Am'ari. "Dessa vez é pior do que quando nos expulsaram de nossas terras. Naquela época não havia tantas bombas".