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Dia de eleição na Indonésia

Legado de Joko Widodo está em jogo | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Mais de 205 milhões de indonésios estão registrados para votar nesta quarta-feira (14), na eleição que é considerada a maior do mundo realizada em um único dia -o país é o quarto mais populoso do planeta.

Está em jogo o legado do ultrapopular Joko Widodo, 62, mais conhecido como Jokowi, que deixa a Presidência com 80% de aprovação após dois mandatos de cinco anos, uma bem-sucedida reforma no sistema de saúde, investimentos maciços em infraestrutura e estabilidade econômica.

O favorito nas urnas é o ministro da Defesa, Prabowo Subianto, 72. Jokowi oficialmente não apoiou ninguém para sucedê-lo, mas o fato de seu filho ocupar a posição de vice na chapa de Subianto é lido como um endosso tácito.

Pesquisa da Lembaga Survei Indonesia (LSI) aponta Subianto na liderança folgada, com 51,9% dos votos. Em segundo lugar vem o ex- governador de Jacarta e acadêmico Anies Baswedan, com 23,3%, e o populista Ganjar Pranowo, ex-líder da província de Java Central e membro do partido de Jokowi, com 20,3%, além de 4,4% indecisos.

Para vencer em primeiro turno, é preciso obter mais de 50% dos votos e 20% em ao menos 20 províncias. Caso contrário, os dois candidatos mais votados se enfrentam em um segundo turno em junho.

Na Indonésia, que viveu 30 anos de regime autoritário sob o ditador Suharto, até 1998, a candidatura de Subianto gera temores de volta a um passado sombrio.

O atual titular da Defesa foi genro de Suharto e serviu como general em seu Exército, famoso por violações dos direitos humanos. Em 1998, Subianto foi afastado do Exército por ordenar o sequestro de ativistas estudantis. Ele é acusado de envolvimento em abusos em Papua Nova Guiné e Timor Leste. O militar já concorreu duas vezes à Presidência -e perdeu para Jokowi. Na última campanha, em 2019, apresentava-se como um Trump indonésio.

Após a eleição de 2019, Jokowi formou seu "gabinete de rivais" e nomeou Subianto como ministro da Defesa.

Desde então, Subianto embarcou em uma transformação radical. O militar linha dura, dado a rompantes e explosões de raiva, deu lugar a um vovozinho que adora gatos, faz dancinhas desajeitadas no TikTok e tem 9 milhões de seguidores no Instagram.

Mais da metade dos eleitores indonésios tem menos de 40 anos e conhecimento limitado sobre o passado militar de Subianto e sua ascensão sob o regime de Suharto.

O militar se apresenta como o candidato da continuidade, dizendo que as políticas de Widodo foram "muito benéficas para todas as pessoas". "Todos os indicadores confiáveis mostraram, se Deus quiser, que a eleição será em um turno", disse a repórteres.

Não é apenas o futuro da terceira maior democracia do mundo, atrás apenas de EUA e Índia em número de eleitores, que está em jogo. Como um dos maiores exportadores mundiais de carvão, níquel e óleo de palma, a Indonésia tem um papel importante a desempenhar na crise das mudanças climáticas. O país também abriga uma das maiores florestas tropicais do planeta.

Será difícil substituir Widodo, que transformou a nação em uma das maiores histórias de sucesso econômico do Sudeste Asiático. Ele ampliou a cobertura de saúde universal de 56% para 94% da população, construiu mais de 1.600 quilômetros de estradas e rodovias, conteve o déficit fiscal e manteve a inflação baixa.

Criado em uma favela em Solo, uma cidade na ilha de Java, Widodo foi o primeiro presidente que não veio da elite política ou militar. Apesar de ter ganhado imensa popularidade com seu jeito outsider, não se rendeu às tentações do populismo. Fez um governo incluindo a oposição e não apostou na polarização.

Nos últimos dez anos, Widodo reinventou a economia da Indonésia, tornando-a um dos mercados de investimento mais atraentes do mundo, graças, em grande parte, ao boom na demanda por tecnologia de energia verde. O presidente usou os depósitos de níquel do país, elemento importante das baterias de veículos elétricos, para modernizar a indústria e atrair investimentos estrangeiros.

Mas o mandatário é criticado por ter usado o peso do cargo para fazer campanha por Subianto. E foi acusado de usar sua influência para permitir que o filho concorresse a vice-presidente. No ano passado, o tribunal constitucional, à época presidido pelo cunhado de Jokowi, mudou as regras de elegibilidade de idade que permitiram que Gibran, 36, concorresse.

Além disso, um dos principais projetos do presidente em fim de mandato, a mudança da capital de Jacarta para Bornéu tem sofrido críticas de ambientalistas e de comunidades locais. Ele também foi questionado por se inclinar a Subianto em vez de apoiar Ganjar, o candidato de seu próprio partido.

Observadores temem o efeito de uma provável vitória de Subianto. "(Jokowi) deixa o cargo com a democracia indonésia mais frágil do que em qualquer outro momento desde a ditadura de Suharto. Ele enfraqueceu a comissão independente de combate à corrupção do país e assinou uma reforma do código penal que restringiu a liberdade de expressão e criminalizou o sexo fora do casamento", disse Gordon LaForge, analista do centro de pesquisas New America, em artigo no New York Times. "É provável que Subianto acelere isso."

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