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As frustrações de Macron

Emmanuel Macron foi dormir no sábado (8) com sua autoimagem de líder de uma França renovada à frente da Europa lustrada. Havia comandado as festividades dos 80 anos do Dia D, recebido o americano Joe Biden com pompas e até doado caças para a Ucrânia combater seu arquirrival Vladimir Putin.

O domingo da eleição parlamentar europeia lhe garantiu sonhos intranquilos, reduzindo o presidente à condição algo pedestre de político nas cordas. Convocar eleições parlamentares antecipadas é a jogada mais arriscada de seu mandato.

Pode dar certo, por óbvio, mas a votação consagradora da RN de Marine Le Pen sugere que a busca de uma imagem moderada para a filha do homem que simbolizou a ultradireita fascistóide europeia por décadas está dando certo.

Macron faz, com a eleição, uma última tentativa de colocar o espantalho ante os franceses. Mesmo que Le Pen não amealhe uma maioria, como pesquisas indicam, ela pode sair com mais poder, obrigando o presidente a coabitar com um Parlamento ainda mais hostil a ele.

Desde 2022, Macron não tem maioria, governando por meio de um controverso dispositivo que o permite driblar votações. Ele tem mandato até 2027 e não pode mais disputar a reeleição, arriscando virar um pato manco se a ultradireita ficar em posição de força potencialmente colocando Le Pen perto do Palácio do Eliseu.

Em 1997, Jacques Chirac também dissolveu a Assembleia Nacional e foi obrigado a engolir cinco anos de coabitação com a maioria de esquerda. Quando o pleito presidencial de 2002 chegou, contudo, o premiê socialista Lionel Jospin foi tirado do segundo turno por Jean-Marie Le Pen, pai de Marine.

O impopular Chirac então surfou o pânico que emergiu no eleitorado francês e reelegeu-se com facilidade no segundo turno. Essa parte da história Macron não poderá testar, dado que está no segundo mandato.

Com tudo isso, Macron vê seu plano de tornar-se a referência da Europa, ocupando o posto que deveria ser do premiê alemão, Olaf Scholz, abortado para tratar de questões mais urgentes em casa. O sistema dual francês ainda dá muito poder ao presidente, mas sua credibilidade saiu arranhada.

Por: Igor Gielow (FOlhapress)