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Rússia se sente ameaçada

Por Igor Gielow (Folhapress)

Aliados estratégicos na disputa com o Ocidente na Guerra Fria 2.0 ora em curso, Rússia e China reagiram nesta a anúncios feitos durante a cúpula da Otan em Washington. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, classificou de "séria ameaça" a instalação de sistemas de mísseis de longo alcance dos EUA na Alemanha a partir de 2026. A medida, segundo o Pentágono, visa aumentar a proteção do flanco leste da aliança militar ocidental.

Ela foi anunciada na quarta (10), ao lado da divulgação de que a segunda base do sistema de defesa antimísseis Aegis Ashore no Leste Europeu, na Polônia, entrou em operação. A Rússia vê tal instalação como ofensiva, dado que na teoria mísseis de ataque podem ser lançados por ela também.

Mas foi a novidade alemã que incomodou mais os russos. "Sem nervos, sem emoções, nós vamos desenvolver uma resposta militar, antes de tudo, a esse novo jogo", afirmou à agência Interfax o vice-chanceler Serguei Riabkov, principal negociador nuclear de Putin.

Já o ex-presidente russo Dmitri Medvedev, com a sutileza usual no seu papel de porta-voz de radicalismos no círculo de Putin, defendeu que Moscou busque o "desaparecimento da Ucrânia e da Otan".

Os EUA não detalharam a natureza de sua nova missão na Alemanha, mas citaram como armamentos ofensivos a serem empregados nela mísseis de cruzeiro Tomahawk, que, se lançados de perto de Berlim, podem chegar a Moscou. Apenas 360 km separam as fronteiras alemãs do território russo ocidental de Kaliningrado.

Sistemas hipersônicos, dos quais os americanos não dispõem de forma operacional, podem ser levados para lá. A resposta russa deverá passar por isso, dado que Putin se gaba da vantagem que possui no campo hoje, e emprega dois modelos do tipo na Guerra da Ucrânia.

Por fim, o Pentágono citou os mísseis SM-6, que nasceram para equipar os sistemas Aegis antimísseis instalados em destróieres da classe Arleigh Burke.

Com o anúncio, os EUA escalam uma crise complexa. Desde que Donald Trump deixou há cinco anos o tratado que vetava mísseis de alcance intermediário na Europa, ambos os países se acusam de querer remilitarizar a região.