O Exército de Israel tem usado civis palestinos para revistar túneis e edifícios na Faixa de Gaza e se assegurar de que os locais são seguros para incursões militares, afirma uma reportagem do jornal israelense Haaretz, um dos mais relevantes do país, publicada na terça-feira (13).
A reportagem do jornal israelense se baseia em relatos de diferentes integrantes das Forças Armadas, de soldados a comandantes.
Ao Haaretz o Exército do país negou a prática, afirmando por meio de sua assessoria que suas tropas são proibidas de usar civis palestinos capturados em Gaza em operações que ponham as vidas deles em risco. "As ordens e instruções das Forças Armadas de Israel nesse sentido foram claras", afirma em nota.
Também ao jornal, Vedant Patel, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA - principal aliado de Israel-, disse que as forças israelenses investigam os incidentes.
O relato do diário israelense reforça o que a Al Jazeera, emissora qatari censurada em Israel, vinha relatando há meses, que Tel Aviv tem usado habitantes de Gaza como escudo, a mesma prática que os militares do país acusam o grupo terrorista Hamas de fazer.
Patel afirmou ainda que cenas como a de um vídeo da Al Jazeera publicado há dois meses, em que soldados israelenses vestem palestinos com uniformes do Exército e prendem câmeras a seus corpos antes de mandá-los adentrar construções arruinadas e túneis com as mãos atadas com lacres de plástico, não refletem os valores do Exército de Tel Aviv e violam suas normas e regulamentos.
Os soldados que falaram ao Haaretz afirmam, porém, que militares de alto escalão de Israel têm conhecimento desse expediente.
Eles descreveram operações ocorridas em diferentes partes do território, que parecem obedecer mais ou menos ao mesmo roteiro.
Primeiramente, segundo o relato ao jornal, as tropas escolhem os civis palestinos que atuarão nas operações e informam a eles que, se colaborarem, terão permissão para sair de Gaza. Os que sabem falar hebraico são mais valorizados, uma vez que isso facilita a comunicação com os militares.
A maioria desses civis é utilizada como uma espécie de isca humana, explorando edifícios e túneis em Gaza antes das tropas, mas vestidos como elas, com uniformes do Exército israelense, sem as botas, no entanto. A ideia é que, se houver algum tipo de perigo no local, como armadilhas ou emboscadas, eles serão expostos aos riscos, e não os soldados israelenses.
Os civis também podem ser usados para outros fins, como mapear túneis e atuar como mediadores. Um dos soldados que falaram com o Haaretz disse ter visto isso acontecer, mas que a tentativa falhou, e os homens armados atiraram no enviado para negociar sua rendição.
A maioria das pessoas usadas pelo Exército são homens na faixa de 20 anos. Mas também há evidências de idosos e menores que participaram de operações como essas.
O período de colaboração com as tropas pode ir de um dia a uma semana inteira. Nesse ínterim, recebem comida do Exército e são vigiados pelos soldados, que os acompanham se quiserem ir ao banheiro, por exemplo.
Militares israelenses são acusados de usar civis palestinos como escudos humanos em pelo menos um outro conflito, a Segunda Intifada, ocorrida de 2000 a 2005. Na época em que os incidentes ocorreram, em 2002, grupos de direitos humanos encaminharam o caso à mais alta instância judicial de Israel, que considerou a prática ilegal e uma violação ao direito internacional.
O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel à época, o general Dan Halutz, ordenou que o Exército seguisse a decisão do tribunal com rigor.