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China e Índia se entenderão?

Reunião do BRICS vai desta terça (22) até a quinta (24) | Foto: Reuters/Folhapress

Por Igor Gielow (Folhapress)

Após quatro anos de tensão, China e Índia chegaram a um acordo para colocar fim à disputa em sua fronteira na região do Himalaia. O anúncio ocorre às vésperas do encontro de seus líderes na reunião do Brics em Kazan (Rússia), que marca uma tentativa de normalização na relação das rivais nucleares.

O acordo visa regrar o patrulhamento das regiões da chamada linha de controle real, que marcam parte da fronteira de 3.488 km entre os dois países. Pequim ganhou uma guerra contra Nova Déli em 1962, e desde então crises estouram pontualmente.

A mais recente foi em 2020, quando 20 soldados indianos e 4 chineses morreram numa escaramuça bizarra, com paus e pedras, na belíssima região montanhosa de Ladakh. Dois anos depois, houve novos embates.

O anúncio foi feito pelo principal burocrata da chancelaria indiana, Vikram Misri, e ainda não foi comentado pelos chineses. O premiê Narendra Modi e o líder Xi Jinping estarão à mesa no jantar de gala oferecido por Vladimir Putin em Kazan nesta terça (22).

O evento marca o início da 16ª reunião dos Brics, bloco que incluía originalmente também o Brasil e, desde 2010, a África do Sul. Ela é a primeira após a maior expansão do grupo, com a chegada do Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Egito. A Arábia Saudita é tratada como membro, mas não enviou lideranças.

Há a expectativa de os dois líderes se reunirem separadamente, mas nenhuma das duas delegações confirmou isso até aqui. O relaxamento das tensões não irá encerrar os motivos fulcrais de rivalidade entre os países, cujas populações somam 2,8 bilhões dos 8 bilhões de humanos.

A Índia segue sua busca por assertividade amparada no bônus demográfico de uma enorme população jovem. É potência nuclear com grandes capacidades convencionais, e consegue ser parceira dos Estados Unidos no grupo anti-China Quad enquanto segue como cliente privilegiada de petróleo e armas de Putin, maior aliado de Pequim.

Não condenou a invasão russa da Ucrânia, como fez o Brasil, seu parceiro de Brics, embora ambos concordem em não adotar sanções que não sejam determinadas pelo Conselho de Segurança da ONU.