Guerra-fria está de volta?

Depois de falas de Trump, Rússia afirma interesses no Ártico

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A Rússia tem interesses estratégicos na região do Ártico, afirmou o Kremlin ao comentar as falas de Donald Trump acerca de comprar a Groenlândia da Dinamarca, anexar o Canadá e retomar o controle do canal do Panamá.

"Estamos acompanhando bem de perto os bastante dramáticos desenvolvimentos da situação, mas até aqui, graças a Deus, no nível de declarações", disse nesta quinta (9) o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov.

"O Ártico [que abrange partes do Canadá e da Groenlândia] é uma zona de nossos interesses nacionais, nossos interesses estratégicos. Estamos interessados em preservar a atmosfera de paz e estabilidade na zona ártica", afirmou.

De quebra, o Ártico há muito é prioridade nacional russa, não menos por ser o caminho mais curto para um ataque com mísseis nucleares contra ou vindo dos EUA. A militarização recente da região sempre preocupou a Otan, que reagiu reforçando patrulhas a partir da Noruega.

Mais importante, contudo, é a questão econômica. O fato de que o gelo ártico tem virtualmente desaparecido nos verões, com o aquecimento global, abriu rotas comerciais para portos russos que precisam usualmente de quebra-gelos para viabilizar o caminho de navios.

Se o comércio com o Ocidente, que seria facilitado pela proximidade dada pela curvatura da Terra na área, está travado devido à guerra, o caminho para portos chineses é considerado vital. Além disso, a exemplo da questão da Groenlândia, a já existente exploração de hidrocarbonetos do Ártico ficou ainda mais favorecida.

Pesa nisso a realidade: os EUA, por exemplo, já tentaram comprar a Groenlândia em outras ocasiões, pelo seu valor estratégico militar — os americanos têm lá sua principal base de monitoramento espacial de lançamentos de mísseis. A mudança climática adicionou outro item de cobiça, o acesso a vastos recursos minerais do país que emergem da calota de gelo em derretimento.

Peskov não falou diretamente sobre Panamá e Canadá. Todos os governos envolvidos na fala de Trump.

Por Igor Gielow (Folhapress)