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Rússia vai fechando o cerco

Por Igor Gielow (Folhapress)

Forças de Vladimir Putin começaram a fechar o círculo em torno de cerca de 10 mil militares de Kiev que ainda ocupam território em Kursk, no sul da Rússia, ameaçando anular uma das poucas cartas que Volodimir Zelenski tem em mãos para as negociações visando encerrar a Guerra da Ucrânia.

Em agosto passado, Zelenski surpreendeu Putin com o avanço na área, junto à região ucraniana de Sumi. Chegou a ocupar cerca de 1.300 km2, área um pouco maior do que a da cidade do Rio, e dominar a importante Sudja, ameaçando a própria capital regional, também chamada Kursk.

Além de ter uma ficha de barganha à mão, Kiev esperava retirar pressão da frente russa no leste de seu país. Putin, humilhado por ver botas estrangeiras pela primeira vez na Rússia desde que os nazistas invadiram a União Soviética em 1941, não desviou recursos para lá inicialmente.

A partir do acordo militar com a Coreia do Norte, direcionou segundo relatos forças de Pyongyang para Kursk, e aos poucos foi recuperando terreno. Desde a virada do ano, aumentou a pressão, já de olho na chegada de Trump ao poder - de forma mais incisiva que o esperado, o americano alinhou-se a Putin na guerra.

Agora, Kiev controla aproximadamente 500 km2, e os russos cercaram o saliente ucraniano por todos os lados, iniciando um movimento em pinça para o que no jargão militar se chama "fechar o caldeirão".

Na segunda (10), a Guarda de Fronteira da Ucrânia confirmou que forças de Moscou invadiram a região de Sumi pela primeira vez desde 2022, buscando fechar o flanco oeste do caldeirão. A leste, o movimento ocorre em solo russo. O comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Sirskii, buscou minimizar o risco de uma debacle, dizendo que não há um cerco completo.

Se a pressão funcionar, a operação visa deixar apenas duas alternativas: uma retirada pelo corredor ao sul da área invadida que ainda está aberto ou enfrentar um cerco sem linhas de suprimento, que já estão bastante degradadas segundo blogueiros militares russos e ucranianos.

Os combates em Kursk são considerados alguns dos mais violentos na guerra, mas paradoxalmente há pouquíssima informação sobre eles: Kiev quer manter suas posições em segredo, e Moscou baixou um blecaute informativo relativo sobre o que ocorre na região.