Por Daniela Arcanjo, Vitor Antonio e Nicholas Pretto (Folhapress)
A guerra às drogas do ex-presidente das Filipinas Rodrigo Duterte, atualmente preso em Haia enquanto é julgado pelo TPI (Tribunal Penal Internacional), foi responsável por 75,6% dos eventos violentos contra civis ao longo de seu mandato, de 2016 a 2022.
Durante seu governo, houve ao menos 7.952 episódios de violência contra civis causados por milícias, grupos criminosos ou pelo próprio governo, de acordo com informações reunidas pelo Acled (Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados, na sigla em inglês), com base em jornais filipinos e internacionais, e analisadas pela Folha. Desses, 6.015 tinham alguma relação com drogas.
O número é desproporcional ao tamanho do problema de dependência química no país asiático, de acordo com especialistas. A nação não sofria uma epidemia de drogas quando Duterte chegou ao poder com uma campanha na qual pediu para a população "esquecer os direitos humanos" para combater o tráfico.
Segundo dados oficiais, 6.200 suspeitos foram mortos durante operações antidrogas nos seis anos em que o ex-presidente liderou o país, mas os números estimados pela sociedade civil são maiores.
De acordo com o Acled, por exemplo, 8.388 pessoas morreram nesse período por ações do governo ou de milícias possivelmente associadas ao Estado em casos relacionados a drogas, enquanto organizações de direitos humanos falam em até 30 mil.
A diferença nos números se deve às circunstâncias suspeitas em que ocorreram muitos dos assassinatos - alguns realizados por milícias ou grupos dos chamados "vigilantes antidrogas". Ao longo de seu mandato, familiares de vítimas, muitas vezes acompanhados de jornalistas, exumaram os corpos de seus parentes para investigar mortes registradas como naturais. Em diversos casos, os corpos tinham marcas que indicavam mortes violentas.
"Uma parte significativa dos mortos nem sequer estava envolvida no tráfico de drogas. Eles morreram apenas porque, um ano antes, por exemplo, alguém disse à polícia que eles tinham relação com tráfico", afirma Joel Ariate, pesquisador e membro do projeto Dahas, que acompanha a violência relacionada a drogas nas Filipinas.