Por Julia Chaib (Folhapress)
Na semana marcada pelo anúncio de um tarifaço a todos os países, chamado de "dia de libertação" por Donald Trump, o presidente americano enfrentou alguns dos gestos de oposição - tanto fora quanto dentro do país - mais vigorosos desde o início do seu governo, há três meses. No sábado (5), milhares de pessoas protestaram em Washington e em outras cidades dos Estados Unidos contra o governo, nos maiores atos de contestação a Trump desde seu retorno ao poder. Placas onde se lia "abaixo a oligarquia" e "o fascismo chegou" foram vistas, em referência aos atos de Trump que tentam ampliar o poder do Executivo.
Uma coalizão composta por dezenas de grupos de esquerda, como MoveOn e Marcha das Mulheres, convocou manifestações sob o lema "Hands Off" (tire suas mãos) em mais de mil cidades americanas. Segundo os organizadores, cerca de 600 mil pessoas aderiram aos atos nos EUA e em outros países. Em Washington, pelo menos 5.000 se reuniram perto da Casa Branca.
O movimento ganhou apoio de manifestantes em cidades da Europa. Houve atos em capitais como Paris, Roma, Londres e Berlim.
Cerca de 200 organizações pró-Palestina fizeram parte dos atos diante da ofensiva do presidente contra estudantes de universidades que participaram de manifestações anti-Israel no ano passado.
O governo já prendeu ao menos três alunos de prestigiadas universidades, sob a acusação (sem evidências) de que apoiam o grupo terrorista Hamas, e agora tenta deportá-los.
O professor de ciência política de Columbia, Robert Shapiro, afirma que o tamanho dos atos deste sábado pode ser um indício de que a oposição tenha espaço para ganhar corpo.
"Teremos que ver como isso se desenrola. As eleições na terça [em Wisconsin] mostram que há uma crescente na oposição, de raiva contra os republicanos", diz. "A principal coisa a observar é o efeito das tarifas. Trump entrou dizendo que iria melhorar a economia, tornar a vida das pessoas melhor do que nunca. E a primeira coisa que fez foi impor tarifas que, por todos os sinais, basicamente devastarão a economia."
A atitude de Trump custou uma relação secular com um dos maiores aliados dos EUA. O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou no final de março que o Canadá precisa repensar e remodelar sua economia e buscar parceiros comerciais "confiáveis". "A antiga relação que tínhamos com os Estados Unidos, baseada na integração cada vez mais profunda de nossas economias e na estreita cooperação em segurança e militar, acabou", afirmou o premiê.