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Serviço de câncer infantil do SUS conquista prêmio

Tratamento pediátrico personalizado existe desde 2021 | Foto: Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil

Laura, 6, trata de um tumor cerebral desde 2019. Fez cirurgia e quimioterapia por um ano e meio, e o câncer regrediu. Em outubro do ano passado, porém, houve uma recidiva e a menina retomou as sessões de quimioterapia.

Enquanto recebe a infusão no serviço de oncologia pediátrica do Hospital Santa Marcelina, abraçada à sua boneca, ela observa o grupo que se aproxima e grita: "oi, presidente da Tucca! Eu sei falar inglês. Quer ver?" E repete as instruções que costuma ouvir no metrô de São Paulo.

O oncologista pediátrico Sidnei Epelman, presidente da Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer) e que dirige o serviço oncológico, aproxima-se da menina e inicia uma conversa. Laura e a mãe, Adriana Vicente, moram em Suzano, região metropolitana de São Paulo, e se deslocam uma vez por semana até o hospital para o tratamento.

A menina é uma das crianças que vêm sendo beneficiadas pela medicina de precisão, uma abordagem que permite escolhas mais acertadas de remédios e doses mais adequadas, o que aumenta as chances de cura e reduz os efeitos colaterais.

Graças a uma parceria entre a Tucca e o Santa Marcelina, que existe desde 2001, crianças e adolescentes com câncer atendidos pelo SUS têm tido acesso a mapeamento genético de tumores e a tratamentos mais personalizados.

Desenvolvido pelo laboratório de patologia e biologia molecular, mantido pela Tucca, esse trabalho acaba de receber um prêmio internacional (Bayer Popia 2023), voltado a iniciativas que enfrentem as desigualdades e melhorem o acesso a cuidados oncológicos de crianças com câncer em todo o mundo.

"Para tratar câncer hoje, precisamos ter detalhes da doença. Com o meduloblastoma [tumor cerebral], a gente sabe que tem quatro subtipos ou até mais. Conhecendo qual é a alteração molecular, conseguimos saber qual é a agressividade e podemos tratar melhor. Consigo, por exemplo, diminuir a radioterapia e, com isso, reduzo a sequela lá para frente. Curo com menos agressividade", explica Epelman.

Um dos poucos no país especializados em tumores pediátricos, o laboratório da Tucca é responsável pela análise de tumores de crianças e adolescentes em tratamento no Santa Marcelina. Investiga também, de forma gratuita, amostras de instituições parceiras não só do Brasil mas de outros países da América Latina. O material é enviado em blocos de parafina pelos Correios, evitando o deslocamento de pacientes.

O biomédico Antonio Fernando da Purificação Júnior, coordenador do laboratório, diz que o trabalho vai além da análise e de um laudo com as alterações genéticas observadas nas amostras de tumor recebidas. "A gente discute com o oncologista se as questões clínicas batem com as questões genéticas e quais os melhores caminhos a serem tomados."

Atualmente, estão em andamento no laboratório estudos de diversos tipos de tumores pediátricos. Entre eles, o retinoblastoma, os osteossarcomas, a leucemia linfoblástica aguda, a leucemia mieloide crônica, o neuroblastoma e os tumores cerebrais raros.

*Por Cláudia Collucci (Folhapress)

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