Por: Gabriela Gallo

Enquanto debate mudanças climáticas, Brasil pode entrar para a Opep

Contradições de Lula a caminho da COP: meio ambiente e petróleo | Foto: Ricardo Stuckert / PR

Começou a 28ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), que está acontecendo em Dubai, nos Emirados Árabes, e segue até o dia 12 de dezembro. Já no primeiro dia de evento, na última quinta-feira (30), foi aprovado o chamado “Fundo de Perdas e Danos”, um fundo climático para financiar eventuais prejuízos de países vulneráveis para que estes consigam lidar com desastres climáticos. Esta era uma das expectativas de realizações do evento, quando iriam ser negociados de fato acordos financeiros para contribuir na desigualdade mundial, que também intensifica os impactos climáticos. Foi fechado um acordo de UR$ 420 milhões.

Para o Correio da Manhã, o membro da Coalizão Brasil e diretor de Florestas e Políticas Públicas da BVRio, Beto Mesquita, pontuou que outra expectativa aguardada ao longo da COP é a divulgação do balanço global, “onde os países vão apresentar quais foram os resultados que atingiram até agora e o quanto falta ser alcançado”.

“Esse é um resultado importante porque ele pode sinalizar ou pode ajudar a evidenciar o senso de urgência para que as medidas sejam efetivamente tomadas. Ter esses números, poder consolidar essa informação de maneira organizada, ainda que seja uma notícia ruim, é importante que a gente tenha esta notícia, que a gente tome conhecimento para que se possa avançar”, ele explicou.

Na edição anterior, COP27, o Brasil foi um dos protagonistas da edição, especialmente por ser o país onde se situa a Floresta Amazônica, conhecido como o pulmão do mundo. A Amazônia será a sede da COP30, em 2025, em Belém (PA).

Temperatura global

Outro tópico que chama atenção para ser discutido na COP28 se refere ao aumento da temperatura global. A Organização Meteorológica Mundial (OMN), da ONU, já confirmou que 2023 será o ano mais quente da história. As temperaturas globais estão subindo cada vez mais e a meta estabelecida no evento é que a temperatura da Terra não pode aumentar mais que 1,5ºC.

Em nota, o líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, Alexandre Prado, reforçou que essa meta é urgente. “Não se trata apenas de mais ambição, mas de mais urgência, pois a atual década é decisiva para o sucesso. Isso é virtualmente impossível se não enfrentarmos a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis. Esta conferência precisa entregar um compromisso forte e factível para que a transição energética seja acelerada”, afirmou.

Petróleo

No mesmo momento em que discute na COP28 a redução das emissões de carbono, o governo brasileiro analisa um convite para entrar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) e se tornar um dos seus “aliados” a partir de 2024. Caso ele aceite a proposta, passará a integrar um grupo de exportadores de petróleo, um dos principais poluentes da atmosfera.

A reportagem conversou com o Coordenador de políticas socioambientais do Instituto Democracia e Sustentabillidade (IDS), Marcos Woortmann, que julgou como “preocupante”, a postura do governo federal em insistir “em um modelo geopolítico baseado em petróleo”. Woortmann está em Dubai participando da conferência.

“No momento em que o planeta está aqui e já estamos sentindo os efeitos concretos das mudanças climáticas em secas, enchentes, ondas de calor, entre outros diversos efeitos, não cabe historicamente ao Brasil insistir naquilo que tem sido a razão de estarmos aqui discutindo e vivendo uma crise”, disse Woortmann.

Ele ainda afirmou que “o petróleo foi o pilar da economia do século 20, mas não será o pilar da economia do século 21”.

“Basta nós vermos aqui em Dubai, por exemplo, a diversificação da economia que tem sido levada à frente como estratégia nacional por todos os países que enriqueceram derivados da exploração do petróleo. Os próprios países centrais que historicamente fizeram essa escolha já estão gradualmente abandonando. Ou seja, não é hora de entrar num barco que está remando na direção contrária da história”, enfatizou.

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