Por: Ana Paula Marques

Lula cobra superpotências em discurso na COP28

Lula quer que potências político-econômicas assumam compromisso ambiental | Foto: Ricardo Stuckert/PR

No segundo dia da conferência climática da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP28, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou das superpotências iniciativas de ações globais ambientais. Em seu discurso, o presidente disse que os gastos em armas deveriam ser usados no combate à fome e no enfrentamento à mudança do clima. Apesar do discurso de cobrança de Lula, repercutiu mal entre os ambientalistas o anúncio de que o Brasil, convidado, irá aderir à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O petróleo, como combustível, é um dos principais causadores da emissão de carbono na atmosfera.

Em seu primeiro discurso no evento que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes, o presidente citou números gastos com armamentos somente no ano passado. Segundo Lula, somam mais de US$ 2 trilhões e 224 milhões.

Combustíveis fósseis

Lula também lembrou que, para introduzir uma economia limpa, há a necessidade de os países serem menos dependentes de combustíveis fósseis. “É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis”, disse. É aí que a adesão à Opep, confirmada pelo presidente no sábado (2) parece uma contradição.

Além disso, o presidente criticou os países ricos: “O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”. Além disso, também anunciou avanços para o fundo global das florestas tropicais discutido na Cúpula da Amazônia, e estabeleceu uma meta inicial de captação de US$ 250 bilhões para a preservação das florestas.

Ao todo, participam da conferência 160 líderes mundiais, incluindo os chefes dos países mais ricos do mundo. Com todas as atenções em seu discurso, Lula lembrou da desigualdade: “A conta da mudança climática não é a mesma para todos e chegou primeiro para as populações mais pobres”.

“O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial. Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, não podem alimentar suas famílias. Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e seus próprios filhos”, continuou “o mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça”.

Opep+

Apesar do discurso ambiental, o Brasil confirma que aceitrá o convite para entrar no “clube” da Opep+, que reúne os integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, anunciado na última quinta-feira (30) pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse não ver contradição na entrada do Brasil na Opep+.

“Em primeiro lugar, o Brasil não vai participar da Opep. Vai participar como observador, inclusive para usufruir daquilo que são os debates e os aportes tecnológicos”, disse. “O Brasil pode ter uma matriz energética 100% limpa e auxiliar o mundo a que também faça sua transição energética com hidrogênio verde. Obviamente que os países que são produtores de petróleo terão que entender exatamente isso”, explicou.

Dias antes da conferência, o presidente Lula já vinha se encontrando com líderes e empresários árabes em busca de investimento para o Brasil e disse querer que o Brasil seja conhecido daqui a dez anos como “a Arábia Saudita da energia verde” — em referência ao maior produtor de petróleo do mundo. Lula cumpriu agenda na Arábia Saudita e Catar antes da COP28.

Emoção

No sábado (2), ao passar a palavra para Marina Silva durante o painel “Florestas: protegendo a natureza para o clima, vida e subsistência”, Lula se emocionou. “Precisamos de 28 edições da COP para que, pela primeira vez, a floresta viesse falar por si só”, disse Lula. “E eu não poderia utilizar a palavra sobre floresta, se eu tenho no meu governo uma pessoa da floresta. A Marina nasceu na floresta”. Neste momento, a voz de Lula embargou.

Marina disse, então, que as diretrizes do governo Lula para a proteção da floresta amazônica englobam o desenvolvimento sustentável em quatro dimensões: ambiental, social, econômica e cultural. O governo anunciou uma queda de 22,3% no desmatamento da Amazônia nos últimos 12 meses até julho deste ano.

Depois de uma agenda repleta de compromissos e reuniões bilaterais, Lula deixou Dubai no domingo (3) e seguiu para Berlim, capital da Alemanha.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.