Por: Murilo Adjuto

Seminário discute financiamento do jornalismo

Novos modelos de financiamento serão necessários | Foto: Paulo Negreiros/Congresso em Foco

Em tempos de disseminação de fake News e da imensa variedade de fontes de informação pouco confiáveis, o jornalismo de qualidade mostra-se indispensável. Mas como produzir um jornalismo de qualidade sem recursos? Diante das diversas transformações nos modelos e da crise dos modelos tradicionais, como prosseguir fazendo jornalismo de modo sustentável, em tempos de redações mais enxutas? A necessidade de criação de novos modelos de financiamento do jornalismo foi o tema do seminário “Caminhos para um jornalismo sustentável”, desenvolvido pelo site Congresso em Foco em parceria com o Google.

Como conclusão geral, o debate mostrou que a falta de recursos compromete a qualidade do jornalismo. Dificuldades na obtenção de receitas diante da falta de clareza sobre como será o modelo de negócios do jornalismo acabam comprometendo a qualidade do conteúdo produzido. Levando a um círculo vicioso: sem recursos, o jornalismo produzido piora; pior, é mais questionado e menos atraente para novos investimentos. Como quebrar esse círculo vicioso?

Ainda no primeiro bloco, a presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Kátia Brembatti, foi enfática sobre o atual momento vivenciado financeiramente pela categoria. “A situação está terrível, sem meias palavras. Estamos vivendo momentos muito difíceis em vários âmbitos. Temos veículos que precisam encontrar uma forma de se sustentar financeiramente, principalmente para manter bons profissionais”, relatou.

No caso do jornalismo investigativo, que Kátia representa, a situação se agrava, já que no caso se trata de uma apuração mais rigorosa, mais detalhada, que requer a qualificação dos jornalistas, além de custos com equipamento, transportes e tempo de apuração.

Precarização

Sérgio Lüdke, do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), apresentou dados da última pesquisa do instituto, demonstrando que há um precarização generalizada da atividade jornalística no Brasil: profissionais de mídia operam com excesso de carga, redações possuem alta dependência no tráfego das redes sociais, a gestão ocorre, na maioria das vezes, em condições informais e a maior parte dos veículos não conseguem acumular a receita necessária para o próprio crescimento.

O especialista também alertou para uma consequência quantitativa desse cenário: mesmo com os avanços tecnológicos, 48,7% dos municípios brasileiros configuram os chamados “desertos de notícias”, regiões que não possuem um veículo jornalístico para realização de cobertura local. Com isso, informações de relevância para estas populações passam a enfrentar dificuldades para chegar ao conhecimento público regional ou nacional.

O pesquisador Paul Matzko, do Cato Institute, explica que essas dificuldades ocorrem principalmente em decorrência do fim da principal fonte de rentabilidade dos jornais da era pré-digital: os anúncios classificados, que perderam espaço diante da concorrência contra mercados digitais como Ebay, Mercado Livre e outros. “É impossível recuperar essa fonte de recursos”, apontou.

Isonomia

Titular da Comissão de Comunicação da Câmara dos Deputados, a parlamentar Carol Dartora (PT-PR), aponta ainda para o desafio de garantir com que os mecanismos de financiamento do jornalismo garantam uma relação isonômica entre grandes e pequenos veículos, de modo a garantir a pluralidade de vozes e evitar “os monopólios que prejudicam a diversidade de vozes e opiniões, dominam a informação e também dominam, algumas vezes, algumas narrativas e discursos”.

A solução passa por incontáveis desafios. Além de requerer um diagnóstico completo e preciso sobre quais fatores dificultam a adaptação do jornalismo à realidade digital, o processo, conforme contam os palestrantes, inclui uma reformulação de filosofia dentro da atividade para recuperar sua imagem diante do público, vontade política e social para uma regulação realista e capacidade de colaboração entre os setores público e privado na comunicação. (Com informações do Congresso em Foco)

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