Por: Gabriela Gallo

Corrida de rua traz acessibilidade para pessoas com deficiência

Doralice (esquerda) e Valéria (direita), ex-tetraplégicas | Foto: Foto: Arquivo Pessoal

A capital federal encerrou o ano de 2022 com esporte e diversidade. No último sábado do ano (30), aconteceu a “BSB Run to Zero”, uma corrida voltada para pessoas com deficiência e com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O evento foi gratuito, teve 745 pessoas inscritas em corridas com distâncias de 1km e 3km, em categorias a partir dos 6 anos de idade e também para idosos com mais de 65 anos de idade. As corridas de rua aconteceram em frente ao Museu da República às 9h30 e contou com a presença de DJs para animar o evento.


Um dos participantes foi o Lucas Antunes, de 17 anos, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) severo e paralisia cerebral. Ele correu acompanhado do pai e ficou em segundo lugar na categoria juvenil. A mãe do jovem, Gabriela Antunes, contou ao para a reportagem a emoção de ver o filho correndo.
“Foi muita emoção pela primeira vez ver meu filho interagindo com pai numa corrida. Nunca imaginei que isso seria um dia possível, mas deu certo, e ainda ficou em segundo lugar!”, celebrou orgulhosa a mãe.
Outra participante do evento foi a servidora pública Doralice Goes, de 47 anos. Portadora de botulismo alimentar, uma doença bacteriana grave rara, ela passou 314 dias em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) após ingerir um alimento contaminado pela bactéria Clostridium botulinum. Ela ficou tetraplégica, mas consciente, tendo que respirar artificialmente por 9 meses.


Doralice é uma sobrevivente e hoje, após uma série de exames, terapias e exercícios, ela voltou a andar e contou vitoriosa para o Correio da Manhã que conseguiu voltar a correr. “Eu caminhei 600m e corri 400m, mas pareceu 5 km. Amei a superação e a sensação de poder correr”, ela comemorou.


Ela contou que foi a primeira vez que participou de um evento inclusivo e reforçou que outros como esses são necessários. “Nós [pessoas com deficiência] não ficamos mais presos em casa. Temos vida social, trabalhamos, viajamos, vivemos. Eventos assim nos dão essa sensação de pertencimento. Eu amei e espero participar de outros”, relatou à reportagem.


Outra amiga de Doralice que também participou da corrida é a jornalista Valéria Amaral. Ela é diagnosticada com Tetraparesia devido à Síndrome Guillain Barré, uma síndrome rara que paralisa o corpo, e “ficou tetraplégica da noite para o dia”. Após 10 meses com muita fisioterapia e persistência, ela foi recuperando os movimentos e hoje consegue andar novamente.


“Hoje eu uso até uma bengalinha para andar em terrenos assentados quando eu vou caminhar bastante. Eu nasci de novo, como se eu fosse um bebê e estou reaprendendo tudo na vida. Eu reaprendi a me sentar na cama, eu reaprendi a caminhar, agora mesmo eu reaprendi a dirigir, reaprendi a nadar, estou recuperando aos poucos os movimentos”, contou à reportagem.


Ela ainda não consegue correr, mas caminhar o todo o quilômetro foi uma grande vitória. “Eventos como este, voltados para PCDs, não só estimulam a prática de atividade física, como ele é um espaço de socialização, onde você pode conhecer pessoas, onde você se sente igual a todo mundo. Todo mundo tem uma história de superação. Então esse tipo de evento, ele não é só inclusivo por ele ter esse olhar para o PCD, ele é inclusivo porque é um momento recreativo”, disse Valéria.

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