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Mães cientistas relatam preconceito

Em 2018, quando suas filhas tinham cinco e três anos de idade, a farmacêutica Rossana Soletti, decidiu mudar de vida. Deixou o Rio de Janeiro rumo à Tramandaí, a 118 quilômetros de Porto Alegre.

Ela trabalhava desde a graduação com pesquisa bioquímica e ciências morfológicas, especialmente relacionadas a tumores cancerígenos, e havia conquistado uma posição de professora após um pós-doutorado em uma universidade do Rio de Janeiro.

Logo depois de passar no concurso para docente, ela engravidou de sua primeira filha e ficou afastada por um período de dez meses devido à licença-maternidade (de seis meses) e à licença-aleitamento (mais quatro meses), conforme preconizado pelo governo estadual.

Menos de um ano depois de voltar ao trabalho, engravidou novamente. Nesse período, ela diz que passou por situações preconceituosas na universidade, como a negativa de oficializar a co-orientação de um aluno de pós-graduação do departamento após uma dedicação de mais de dois anos na orientação. A justificativa? Baixa produtividade no período, segundo ela.

"O conselho de departamento, composto 99% de homens, entendeu que a minha produtividade foi incompatível com um orientador cadastrado no programa", afirma a farmacêutica , hoje aos 42 anos.

Neste ano, reportagem da Folha mostrou pareceres do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com teor preconceituoso contra bolsistas mulheres que citavam a maternidade. Como os pesquisadores são avaliados segundo, entre outros critérios, o número de artigos publicados nos últimos cinco anos, mulheres com filhos acabam sendo penalizadas.

Por: Ana Botallo (Folhapress)