Por:

A convergência entre as mulheres

A pesquisa Mulheres em Diálogo, divulgada nesta segunda-feira (24), mostra que, independentemente de orientação política e classe social, 94% das mulheres defendem igualdade salarial, 77% apontam segurança como prioridade e 72% apoiam maior representatividade feminina na política. No entanto, o levantamento evidencia desafios em pautas como descriminalização do aborto e influência religiosa na política.

Os resultados da pesquisa indicam que, mesmo em um contexto de fraturas sociais, há temas que aproximam mulheres de diferentes perfis, criando oportunidades para construir diálogos produtivos, afirma Carolina Althaller, diretora executiva do Instituto Update, responsável pelo levantamento. Para a etapa quantitativa, foram feitas entrevistas com 668 mulheres, residentes em todas as regiões do país. A etapa qualitativa incluiu 30 mulheres em grupos focais.

"Questões como igualdade salarial e segurança refletem preocupações universais entre as mulheres brasileiras e podem ser a base para ações que promovam avanços nos direitos das mulheres", diz Carolina. O combate à violência de gênero também é uma questão comum aos diferentes perfis de mulheres, sendo apontado por 71% das entrevistadas quando questionadas sobre três dos principais temas para a mulher brasileira atualmente.

A cientista política Camila Rocha, uma das pesquisadoras, explica que o estudo partiu de um diagnóstico de que seria possível as mulheres brasileiras avançarem mais se aquelas que estão na política hoje se unissem em torno de objetivos comuns.

"Muitas vezes, a gente pensa no que divide as mulheres, no que as mulheres têm uma discordância maior, e eu estou falando principalmente na pauta da legalização do aborto no Brasil. E, às vezes, a gente deixa de lado pensar que, na verdade, tem muitas outras concordâncias em vários temas", relatou a cientista política.

A pesquisa revela que até mesmo as que não se identificam como feministas reconhecem a importância dessas pautas e apoiam iniciativas que melhorem a vida das mulheres. Segundo o estudo, porque 48% das entrevistadas consideram-se feministas, 43% não se consideram feministas e 8% não souberam responder.

De acordo com a pesquisa, a resistência ao termo feminismo pode estar ligada a associações com movimentos políticos pontuais, que conflitam com valores conservadores, ou até à falta de entendimento sobre o que o termo realmente significa. No entanto, uma das conclusões é que essa rejeição ao termo não anula as possibilidades de encontrar solidariedade em causas de interesse comum.