Escritoras negras realizam sarau em Brasília

Evento encerrou a 17ª edição do Festival Latinidades com leituras de obras literárias

Por Mayariane Castro

Maioria na sociedade, há poucas escritoras pretas

No último dia da 17ª edição do Festival Latinidades, no domingo (28/07), escritoras negras de Brasília participaram de um sarau no Museu Nacional da República. O evento, que reuniu autoras locais para a leitura de poemas e textos em prosa, foi promovido pelo coletivo Julho das Pretas que Escrevem no DF.

O coletivo, ativo há quatro anos, visa fomentar a escrita e a publicação de livros por mulheres negras. O nome do grupo é uma referência ao Mês da Mulher Preta Latino-Americana, e suas atividades buscam criar um espaço de visibilidade e apoio para autoras negras. De acordo com o IBGE, as mulheres negras representam 28,3% da população brasileira, totalizando 60,6 milhões de pessoas, das quais 11,3 milhões são mulheres pretas e 49,3 milhões são mulheres pardas.

Renome

Apesar da representatividade significativa na população e da influência cultural das mulheres negras, elas têm uma presença limitada na literatura brasileira. A escritora Waleska Barbosa, idealizadora do coletivo, destacou no evento que a produção literária negra é predominantemente lembrada por três autoras: Maria Firmina dos Reis, com o romance "Úrsula" (1859); Carolina Maria de Jesus, conhecida por "Quarto de Despejo: diário de uma favelada" (1960); e Maria da Conceição Evaristo de Brito, que iniciou sua carreira literária em 2003 com "Ponciá Vicêncio".

Waleska observou que o espaço na literatura brasileira foi historicamente dominado por autores brancos, resultando em estereótipos e personagens caricatos, que perpetuam preconceitos. Ela criticou a representação reducionista de personagens negros como empregados, estereótipos sexualizados ou subalternos, afirmando que essas imagens são frequentemente reproduzidas em filmes e na televisão.

Para enfrentar essas questões e ampliar a visibilidade das autoras negras, o coletivo Julho das Pretas que Escrevem no DF presta homenagem às escritoras de diferentes gerações. Este ano, foram celebradas as autoras Adelaide Paula, Ailin Talibah, Conceição Freitas, Elisa Matos, Norma Hamilton, e as irmãs Jovina Teodoro e Lourdes Teodoro. O sarau realizado no Museu Nacional da República, como parte do Festival Latinidades, ressaltou a importância do reconhecimento e apoio à produção literária das mulheres negras.