A "dança das águas", num recado para o planeta

Companhia Corpus Entre Mundos de preservação ambiental e ancestralidade

Por Mayariane Castro

Espetáculo sugere conexão com a água e tradições

A Companhia de Dança Afro Contemporânea Corpus Entre Mundos estreou o seu 11º espetáculo, “Memórias da Água”, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília por um período de duas semanas no mês de setembro. Agora, o espetáculo circulará nas regiões administrativas do Distrito Federal. Com uma mistura de dança, música e narrativa, a nova obra mergulha nas profundezas da memória e da ancestralidade, trazendo consigo histórias e tradições ligadas à água para envolver o público.

A Companhia Corpus Entre Mundos promete transportar o público para uma jornada sensorial, onde cada movimento e som refletem a riqueza das culturas africanas e afro-brasileiras. O espetáculo celebra a conexão profunda entre o ser humano e a água, mergulhando nas profundezas da memória, da ancestralidade e tradições ligadas a esse elemento vital.

Os diretores e idealizadores da companhia Dilo Paulo e Lenna Siqueira explicam que o espetáculo vem de uma fusão entre o Brasil e Angola, e a ligação da ancestralidade com o próprio corpo.“A gente fala da nossa sobrevivência, a gente vem falando do mundo em si. É um espetáculo que fala da nossa secularidade, o que a gente precisa para manter o corpo, entender como a gente funciona”, declarou Lenna.

O grupo irá realizar a primeira apresentação com o Fundo de Apoio a Cultura (FAC) para a circulação do espetáculo em diferentes regiões administrativas. A primeira localidade escolhida foi Planaltina, a cidade mais antiga do DF, na qual a companhia de dança esteve presente recentemente na programação da III Mostra de Dança da cidade, que aconteceu no ínicio de setembro.

Inspiração

O bailarino e coreógrafo angolano Dilo Paulo ainda acrescenta como a obra serve de ponte para intensificar e esclarecer ainda mais as raízes que ligam o Brasil a Angola, seu país de origem. Ele fala sobre o uso de referências de religiões de matrizes africanas no espetáculo que possuem paralelos dentro da cultura angolana em forma de celebração.

“Um dos exemplos do espetáculo é a figura de Iemanjá, que é muito celebrada no Brasil. Lá em Angola, temos uma celebração de uma divindade que é a representação dela. Dentro do espetáculo, trazemos com os nossos corpos as Quedas de Calandula, que fica no país e é considerada uma das sete maravilhas do mundo. É uma grande cachoeira que a cultura local diz que é um grande portal que conecta os seres humanos com o lado espiritual”.

Os bailarinos comentam que a representação feminina nas obras é muito forte e impactante. O espetáculo possui uma figura feminina, representada em cena por Lenna, que de certa forma conduz o andamento da apresentação. As coreografias são todas interligadas e não há pausas, a música é editada de forma contínua e o palco nunca está vazio, com algum dos integrantes em cena para composição.

Ao público

Como parte integrante da experiência artística de um novo espetáculo, a companhia ofereceu oficina gratuita aos participantes que possuíam interesse para que eles pudessem ter uma experiência única e imersiva, conduzida pelos diretores e bailarinos da companhia. Eles compartilharam seu conhecimento e paixão pela dança afro-contemporânea.

A oficina teve aquecimento baseado em técnicas de dança, apresentação das bases rítmicas e dos princípios fundamentais do movimento, e compartilhamento de sequências coreográficas do espetáculo "Memórias da Água". Para finalizar, os diretores compartilharam insights sobre o processo criativo do espetáculo, sobre a inspiração, os desafios e a mensagem que desejam transmitir.

O artista e integrante da companhia Gabriel Rosa conta que ele busca criar uma conexão profunda com o público. “Eu quero mexer com a água das pessoas. Eu quero que as pessoas tenham saído desse espetáculo pensando isso, pensando em como aquela obra mexeu com ela internamente. Nós somos feitos de muita água e eu quero mexer com o interno das pessoas”, disse o bailarino.