Mulheres que fazem arte
Exposições no CCBB destacam o papel feminino e seu legado na cultura e na ciência
A partir de 2024, dois projetos expositivos, idealizados pelo estúdio UM-BA-RA-KÁ, levam o público a produção artística, científica e cultural de mulheres cujos nomes foram historicamente ofuscados. As exposições estão no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. Com curadoria de Isabel Seixas, Larissa Victorio e Diogo Rezende, as exposições “Nise da Silveira – A Revolução pelo Afeto” e “NÓS – arte e ciência por mulheres” propõem uma análise crítica e reflexiva sobre o legado feminino em áreas de produção do conhecimento, como as artes visuais e as ciências.
As mostras, que estão em exibição simultânea em quatro espaços expositivos em três cidades brasileiras, convidam os visitantes a reconhecer a magnitude da contribuição feminina, muitas vezes silenciada ao longo da história. As exposições têm como ponto de partida a valorização do trabalho de mais de 30 mulheres que, apesar de suas contribuições notáveis, foram marginalizadas ou apagadas pela narrativa histórica predominante, geralmente registrada por homens. A ideia é dar visibilidade a essas produções, com o intuito de ressaltar a importância e a diversidade de suas contribuições para a ciência, as artes e a cultura de modo geral.
Magnitude
Em entrevista, os curadores destacaram a dificuldade de representar toda a produção feminina em apenas uma sala de exposição. “Qualquer sala de exposição, por maior que seja, jamais daria conta de apresentar todas as contribuições de mulheres produtoras do conhecimento”, afirmam. Com essa perspectiva, a escolha dos conteúdos a serem apresentados nas mostras foi cuidadosamente pensada para abordar a magnitude do trabalho de mulheres nas mais diversas áreas.
A curadoria buscou, também, adaptar as exposições ao espaço de cada cidade, criando um diálogo mais próximo com as especificidades locais e com as características de cada arquitetura, além de promover interações com os territórios. “A cada cidade que levamos os projetos, transformamos um pouco seus escopos para que dialoguem mais intimamente com os territórios, estabelecendo laços com os visitantes”, complementam os curadores.
Com a proposta de adaptar as mostras às condições de cada local, os curadores também enfrentaram desafios técnicos relacionados à montagem, como ventilação e iluminação natural. Por conta disso, precisaram pensar em soluções para contornar essas dificuldades, principalmente em espaços de múltiplas funções, nem sempre adaptados para receber acervos históricos. “Montamos projetos em áreas muito distintas e estamos sempre buscando valorizar as potencialidades e contornar questões como ventilação e iluminação naturais, desafios comuns em espaços não preparados para exposições desse porte”, explicam.
Renome e destaque
Entre as artistas presentes nas exposições, encontram-se nomes como Antonia Dias Leite, Arissana Pataxó, Berna Reale, Bruna Alcântara, Camila Soato, Camila Sposati, Claudia Ferreira, Efe Godoy, Gabriela Noujaim, Hariel Revignet, Heloisa Marques, Katharina Welper, Marcela Cantuaria, Marika Seidler, Japira Pataxó, Paty Wolff, Priscila Rooxo, Thatiana Cardoso e Yacunã Tuxá, que compõem a mostra *NÓS – arte e ciência por mulheres*. Já a exposição *Nise da Silveira – A Revolução pelo Afeto* traz as obras de Nise da Silveira, Lygia Clark, Margaret de Castro, Beta d’Rocha, Alice Brill e Adelina Gomes, além de diversos outros nomes que se destacaram nas áreas das ciências e das artes visuais.
O estúdio UM-BA-RA-KÁ, com sede no Rio de Janeiro, comemora o sucesso das exposições em 2024, com projetos realizados nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Sorocaba, que ficam em cartaz por longos períodos. Estima-se que mais de 150 mil pessoas já tenham visitado as mostras, sendo aproximadamente 35 mil delas estudantes de escolas públicas. O estúdio destaca ainda a importância das instituições culturais e dos mais de 80 profissionais envolvidos nos projetos, que atuam em diversas funções nas etapas de produção e montagem das exposições.
Para os curadores, o sucesso da iniciativa é resultado da colaboração de uma ampla rede de pessoas e organizações, com destaque para o apoio do poder público, que possibilitou a realização das exposições por meio da Lei Rouanet, garantindo a captação dos recursos necessários para sua realização. “Não podemos deixar de agradecer a receptividade das instituições que nos recebem, o engajamento dos e das profissionais da cultura, que assumem funções diversas em cada uma das cidades, e, claro, ao apoio do poder público que possibilitou a realização de tudo isso”, comentam Isabel Seixas, Larissa Victorio e Diogo Rezende.
Novas portas
Com um formato itinerante, as exposições foram pensadas para alcançar o maior número possível de pessoas, levando arte e conhecimento a diferentes públicos, especialmente nas escolas. Segundo os curadores, a presença maciça de estudantes nas exposições reforça o papel educativo e transformador da arte, além de contribuir para a formação de uma nova geração mais consciente da importância da diversidade de gênero na produção de conhecimento.
A expectativa é que, com o sucesso das edições de 2024, novas cidades sejam contempladas no futuro com essas exposições, permitindo que cada vez mais pessoas se conectem com a história de mulheres pioneiras que, mesmo diante das dificuldades impostas pelo seu tempo, deixaram um legado duradouro.