A TV Apada é um novo projeto audiovisual que visa dar visibilidade à comunidade surda atuante no Distrito Federal, com conteúdo online acessível e gratuito. Disponível no YouTube e em um site próprio. A programação traz entrevistas, debates, curtas-metragens e outros materiais produzidos na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Com a proposta de promover a inclusão e a acessibilidade, o canal conta com legendas em português, closed caption, audiodescrição e tradução simultânea para pessoas ouvintes. O conteúdo do canal está disponível desde o início deste ano e, até maio, serão publicados 72 vídeos ao todo.
O projeto foi idealizado pela Associação de Pais e Amigos dos Surdos do Distrito Federal (Apada-DF) e é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF), com apoio de outras organizações, como Teus Sinais – Produção de Acessibilidade Cultural, Estúdio Formiguero e Nomade Vídeo Arte. A TV Apada tem como um dos principais objetivos destacar a cultura surda e valorizar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como parte essencial da identidade cultural brasileira.
Detalhes
A programação da TV Apada é composta por entrevistas e apresentações de artistas surdos e com deficiência auditiva que atuam nas diversas áreas culturais. Entre os nomes que já participaram dos programas estão a grafiteira Santa Surda, o artista plástico Marcos Anthony, o dançarino Diego Portela e os integrantes da banda Surdodum, entre outros. Além disso, o canal também exibe debates sobre temas relacionados aos direitos das pessoas com deficiência, poesia, contação de histórias e curtas-metragens, sempre com a presença de intérpretes e apresentação em Libras.
As apresentadoras do canal, Núbia Laismann e Andreia Ferreira, são surdas e atuam na condução das entrevistas, que buscam valorizar e dar protagonismo a pessoas com surdez ou deficiência auditiva no contexto cultural. A proposta da TV Apada, segundo o diretor de acessibilidade do projeto, William Tomaz, "é dar visibilidade e protagonismo aos artistas e técnicos PcDs e aos projetos que têm a acessibilidade e a inclusão como propósito no cenário cultural".
Ele acrescenta ainda que o objetivo é estabelecer igualdade de condições no campo da cultura e inspirar outros projetos a seguir o mesmo caminho, já que, segundo ele, as ações de incentivo ainda são insuficientes.
Início de tudo
O projeto tem suas raízes no Surdo Cinema, iniciado em 2017 com o intuito de capacitar pessoas surdas usuárias de Libras para o universo audiovisual. O canal também é um desdobramento de um projeto piloto, iniciado em 2014 pela professora surda Rejane Louredo e pelo intérprete de Libras Marcos de Brito, que produziam conteúdos audiovisuais voltados para a comunidade surda. A continuidade dessas ações, agora com a TV Apada, busca fortalecer a presença da cultura surda no Distrito Federal e no Entorno, contribuindo para a formação de plateia e a democratização do acesso à cultura.
Além de destacar a cultura surda, o projeto tem como princípio a defesa dos direitos das pessoas com deficiência e o cumprimento de legislações como o Estatuto da Pessoa com Deficiência e a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que apontam a deficiência como uma combinação de limitações individuais e barreiras sociais que dificultam a plena participação no exercício de direitos. A TV Apada, portanto, se coloca como um instrumento de resistência e valorização da cultura surda, buscando a superação dessas barreiras e o fortalecimento do movimento cultural surdo.
História e legado
A Apada-DF, que é a responsável pela realização do projeto, tem uma história de 50 anos de luta pelos direitos das pessoas surdas no Brasil. Fundada em 1975, a associação foi criada com o objetivo de atender às necessidades informacionais e educacionais da comunidade surda, especialmente em um período em que as leis de inclusão eram ainda incipientes. A instituição também desempenha um papel importante na valorização da Língua Brasileira de Sinais e na promoção da inclusão da comunidade surda nos mais diversos segmentos culturais.
Atualmente, a Apada-DF é reconhecida como Ponto de Cultura pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF e continua desempenhando um papel importante na luta pela inclusão e acessibilidade no Brasil. A sede da associação, localizada no Edifício Venâncio II, no Conic, em Brasília, é um dos centros de referência no DF para o movimento surdo e para aqueles que buscam mais informações e acesso à cultura e educação em Libras.
A TV Apada, ao destacar as produções culturais da comunidade surda, também atua na formação de plateia e no incentivo ao reconhecimento da cultura surda como um elemento legítimo e importante da cultura nacional. Além de proporcionar conteúdos de entretenimento e reflexão, o canal propõe um espaço para a troca de experiências e a conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência, promovendo um debate mais amplo sobre a inclusão e a acessibilidade no Brasil.