Entre os dias 13 e 21 de abril, o Sol Nascente, região administrativa do Distrito Federal que já foi considerada a maior favela do Brasil, recebe a exposição de arte urbana “Circuito Arte Não é Privilégio”. A mostra a céu aberto ocupará aproximadamente mil metros quadrados de muros, paredes e construções da comunidade, com obras de mais de 100 artistas.
A ação marca o aniversário de 65 anos de Brasília, comemorado no dia 21 de abril, e faz parte de um projeto nacional, idealizado pelo produtor cultural Kleber Pagu. O projeto é uma iniciativa do Céu – Museu de Arte a Céu Aberto, e tem como objetivo transformar áreas periféricas e regiões centrais degradadas de todas as 27 capitais brasileiras em espaços públicos com obras de arte urbana.
Durante a semana que antecede o aniversário da cidade, os artistas participantes executam suas obras em campo de futebol e construções do entorno, transformando o espaço em uma galeria ao ar livre. Segundo os organizadores, as obras são inspiradas no cotidiano, nas vivências e nas perspectivas dos moradores do Sol Nascente.
Apoios
O projeto conta com a articulação local de Gilmar Satão e Andréia Santos, que participaram de oficinas formativas realizadas em novembro de 2023 na sede da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em São Paulo. A exposição em Brasília é um desdobramento da primeira fase do circuito, vinculada ao “Circuito Funarte de Artes Visuais Marcantonio Vilaça 2023”. Ao longo de 2024, o projeto prevê ainda ações semelhantes em Salvador (BA) e Belém (PA).
Além da ocupação artística na região do Sol Nascente, o circuito marcou presença em outros dois marcos da capital federal. Um deles é o Acampamento Terra Livre (ATL), a maior mobilização indígena do país, que ocorre anualmente em Brasília. O outro é o próprio aniversário da cidade, com programação estendida que inclui oficinas, debates e intervenções visuais em diferentes pontos da cidade.
A proposta do circuito é mobilizar artistas, educadores e moradores em torno de ações coletivas que envolvem arte, memória e território. A atuação dos artistas é acompanhada por processos educativos que compartilham metodologias e experiências. Participam desta etapa os arte-educadores Frederico Day e Daniel Medeiros, conhecidos como Ninguém Dormi e Boleta, integrantes do coletivo Local Studio, com atuação no Beco do Batman, em São Paulo.
Periferia em cena
As atividades no Sol Nascente incluem não apenas a criação das obras visuais, mas também ações formativas e encontros com a comunidade. De acordo com os organizadores, o foco é incentivar a troca de saberes e o envolvimento direto da população local nos processos de criação artística. A escolha do Sol Nascente como espaço expositivo reflete o objetivo do projeto de descentralizar a produção e circulação de arte, promovendo o acesso em territórios tradicionalmente excluídos dos circuitos culturais formais. A proposta do Museu Céu, criado por Kleber Pagu, prevê transformar as cidades em plataformas de exibição e interação artística permanente, valorizando contextos urbanos muitas vezes invisibilizados.
A programação conta com participação de artistas visuais, grafiteiros, ilustradores, muralistas e outros agentes culturais que atuam nas periferias do Distrito Federal. Os organizadores destacam que o protagonismo é de artistas locais, com foco na representação visual de temas relacionados à identidade, à resistência e à vida nas comunidades.
Com apoio institucional da Funarte, o circuito busca consolidar-se como política pública de fomento à arte urbana. A partir da ocupação de espaços públicos e da realização de oficinas, a iniciativa propõe discutir questões como o direito à cidade, o pertencimento territorial e o papel da arte como agente de transformação social. A abertura oficial da exposição acontece no dia 21 de abril, com a conclusão dos murais e a realização de atividades abertas ao público.
O “Circuito Arte Não é Privilégio” foi concebido como uma ação de caráter nacional, com implementação em todas as capitais brasileiras até 2026. A proposta inclui ações contínuas de formação de agentes culturais, produção artística coletiva e articulação entre diferentes redes culturais periféricas. Em Brasília, a proposta é que o projeto tenha desdobramentos com novas intervenções, além de estabelecer parcerias com escolas, coletivos culturais e organizações comunitárias. Segundo os organizadores, o circuito busca estabelecer vínculos duradouros entre artistas e territórios, com impacto direto na produção cultural local.