Por Jorge Jaber*
O último relatório da Organização Mundial da Saúde sobre o tabagismo traz uma informação alvissareira: o consumo de tabaco vem se reduzindo no planeta. Em 2022, por exemplo, cerca de 20% dos adultos fumavam, enquanto no ano 2.000 o percentual ultrapassava os 30%. Diante dos comprovados danos do fumo ao organismo, a queda deve ser celebrada, mas com ressalvas, pois ainda há cerca de 1,25 bilhão de fumantes no mundo.
Temos, além disso, uma nova ameaça no ar: os "vapes", ou cigarros eletrônicos. Associados por uma massiva campanha comercial a um perfil moderno e tecnológico que omite seus riscos, o produto vem sendo adotado por muitos jovens como um substituto seguro do cigarro tradicional. Um erro cujos impactos na saúde pública serão, infelizmente, sentidos em breve.
A queda foi constatada em 150 países — entre eles, citado como exemplo positivo, o Brasil. Desde 2010, reduzimos o consumo em 35%, superando a meta de 30% estabelecida pela própria OMS, que recomenda medidas como a criação de espaços livres da fumaça e a regulamentação da publicidade para combater a epidemia.
Sim, trata-se de uma epidemia, inclusive com impacto econômico. No Brasil, por exemplo, o atendimento direto às vítimas do tabagismo custou mais de 50 bilhões em 2022. Considerando-se as licenças médicas e aposentadorias por invalidez ou morte, temos outros 42 bilhões. Uma conta alta, paga por toda a sociedade, com recursos que poderiam se converter em escolas, hospitais ou serviços para a população.
O problema, portanto, ultrapassa a seara da saúde, e a redução obtida pelo Brasil não significa apenas - o que não é pouco, claro - vidas preservadas. O relatório mostra que somos capazes de planejar e executar, de forma consistente e independente dos governos desta ou daquela ideologia, um trabalho sério, coordenado e com resultados efetivos. Ainda há muito a fazer, em diversos setores, mas esta conquista prova que podemos superar os desafios que temos pela frente. Uma boa notícia para todos os brasileiros.
*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e professor de Psiquiatria da PUC-Rio