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Entre cautela e crescimento: o futuro da Selic no próximo Copom

Por Hugo Garbe*

À medida em que o Brasil se aproxima da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), todos os olhos se voltam para as decisões que influenciarão a trajetória futura da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,75%. Com o cenário econômico global e nacional apresentando incertezas, a reunião desta semana é especialmente crítica.

Historicamente, a Selic serve como uma ferramenta principal para o controle da inflação no Brasil, impactando diretamente o custo do crédito e, por consequência, o consumo e o investimento. Em março, o Banco Central sinalizou uma possível redução da Selic para 10,25% como um último corte significativo antes de adotar uma abordagem mais conservadora nos ajustes futuros. No entanto, recentes projeções de mercado ajustaram essa expectativa para um corte mais modesto de 0,25 ponto percentual, o que situaria a Selic em 10,50%.

A expectativa moderada é uma resposta à combinação de fatores econômicos complexos. Internamente, o Brasil enfrenta desafios fiscais e políticos que podem afetar a estabilidade econômica e as expectativas inflacionárias. Externamente, decisões de política monetária em economias importantes como os Estados Unidos, onde o Federal Reserve optou recentemente por manter suas taxas de juros, também exercem influência. A manutenção das taxas pelo Fed ajuda a estabilizar o cenário internacional, mas também limita a margem de manobra do Copom para cortes agressivos, já que eles poderiam desestabilizar o câmbio e afetar negativamente a economia brasileira.

Reduzir a Selic a um ritmo mais lento pode ter várias implicações. Economicamente, tal abordagem ajuda a garantir que a inflação continue sob controle e sem restringir excessivamente o crescimento. Taxas de juros mais altas que o necessário poderiam reprimir o investimento e o consumo, enquanto taxas muito baixas poderiam aquecer muito a economia, levando a pressões inflacionárias. Além disso, uma política monetária bem calibrada reforça a credibilidade do Banco Central, algo crucial para a estabilidade financeira de longo prazo.

Por outro lado, pode ser significativo o impacto social de taxas de juros mais altas por períodos prolongados, especialmente em uma economia com desigualdades marcantes como a brasileira. O custo mais alto do crédito pode limitar o acesso a financiamentos para habitação e consumo para as camadas mais vulneráveis da população, exacerbando as disparidades econômicas.

Assim, enquanto o Copom se prepara para mais uma reunião decisiva, a complexidade das escolhas à frente reflete o delicado equilíbrio que os formuladores de política monetária devem manter entre estimular o crescimento econômico e controlar a inflação em um ambiente global incerto. Os próximos passos do Copom não só definirão a política monetária imediata do Brasil, mas sinalizarão como o país pretende navegar por um panorama econômico global que continua a apresentar desafios significativos.

*Professor Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.