Por Carlos Penna Brescianini*
Os governos estaduais e federal têm demonstrado não entender o que são os problemas da Mobilidade Urbana nas cidades brasileiras. Não é uma crítica vazia. São demonstrações claras que mostram os governantes pensando como estivessem em 1950. Acham que a solução é mais asfalto, viadutos e túneis.
Vamos começar com a capital federal, Brasília. A cidade teria 4 linhas de metrô que foram substituídas por corredores de ônibus BRTs. Como é que uma linha planejada para transportar 1.400 passageiros em um trem de metrô vai enfiar essa quantidade de passageiros em um ônibus para 120 passageiros? É inviável. Mas é a política de transporte público que o governo do DF está fazendo. Quem não quer ficar dentro de ônibus, se vira e compra uma moto ou um carro de 2ª mão. E Brasília passou a ter quase 1 automóvel para 2 habitantes.
Em Belo Horizonte o Metrô BH foi concedido a um grupo familiar (grupo Comporte) que uma de suas empresas próximas (a Gol Linhas Aéreas) está devendo mais de R$ 24 bilhões de reais e pode fechar. Mas vamos desconsiderar esse detalhe e relatar que o governo federal está entregando mais de R$ 2 bilhões a esse grupo para tocar as obras de ampliação do Metrô BH.
Por sua vez, o governo de Minas Gerais doou mais de R$ 400 milhões a esse grupo. Dinheiro esse vindo como indenização da Vale do Rio Doce como parte da compensação pelo desastre de Mariana. Que deveria ser utilizado em favor das vítimas do desastre.
Pois agora os novos donos / concessionários do metrô BH querem construir um trecho da linha 2 do metrô, entre os bairros de Ferrugem e Barreiro, em via singela. Traduzindo: em vez de uma via para ir e outra para voltar, querem fazer uma única via em que os trens ficarão se revezando em quem deve ir e quem deve esperar. Isso é um convite ao desastre.
No Rio de Janeiro, o que nos mais grita a atenção é a Supervia, a antiga Central do Brasil, que foi concedida / privatizada em 2011. Hoje, seu principal controlador é o grupo japonês Mitsu, que sempre declara querer devolver a concessão e consegue mais vantagens do governo estadual.
Temos trens sucateados, estações degradadas e até uma estação pronta que é mantida fechada, a antiga estação Wall Mart, entre Del Castilho e Pilares. O prédio do Wall Mart hoje pertence ao Atacadão, há demanda de passageiros, mas a estação continua fechada há anos.
Em São Paulo, o Metrô SP tem linhas privatizadas que custam mais aos passageiros que as linhas estatais. São subsidiadas por uma fatia diferenciada a mais na divisão da arrecadação das bilheterias. Quem paga no final? O passageiro.
Enquanto isso, os governos estaduais e federal gastam bilhões de reais em estímulos ao transporte rodoviário, sejam automóveis, ônibus, novos viadutos, corredores de ônibus etc. Isso equivale a dar cocaína ao viciado, achando que vai resolver a síndrome de abstinência dele. Na verdade, está se ajudando a aumentar o problema.
O Brasil fechou suas faculdades de engenharia ferroviária nos últimos 40 anos. Há poucas ilhas em conhecimento em Mobilidade Urbana. A Coppe da UFRJ é uma delas. O Brasil tinha mais de 39 mil km de ferrovias em 1964. Hoje tem menos de 12,5 mil km, tendo apenas 2 linhas que transportam passageiros.
O Brasil ainda tem 2 empresas federais de transporte metro-ferroviário, a CBTU e a Trensurb. Sucateadas por cortes de orçamento, estão subutilizados. Poderiam estar operando o transporte metro-ferroviário em todo o país, ajudando a resolver o caos urbano que as cidades brasileiras se transformaram.
Em todo o mundo civilizado há metrôs e transporte metro-ferroviário: Estados Unidos, França, Inglaterra, Alemanha. Itália, Espanha, Japão, China. Em todos esses países essas empresas são estatais e fazem parte do orçamento da nação, como parte de um projeto de desenvolvimento. Já passou da hora de o Brasil recuperar o tempo perdido.
*Jornalista, especialista em Energias Alternativas, Mestre em Ciência Política, Pesquisador em Mobilidade Urbana.
Foi coordenador do
Metrô-DF.