O que torna um homem, um Homem?
Por Cristina Navalon*
Durante muito tempo, a sociedade perpetuou a ideia de que um homem de verdade deve ser forte, invulnerável e emocionalmente reservado. Isso sem contar os resquícios da filosofia patriarcal de que ele deve ser o "provedor" da casa, aquele que nunca falha. No entanto, essa concepção distorcida tem causado danos significativos à saúde mental masculina, criando barreiras para que possam expressar seus sentimentos e buscar ajuda.
Um homem é, acima de tudo, humano, e humanos são seres dotados de emoções. A masculinidade tradicional dita que demonstrar sentimentos é um final de fraqueza, o que faz com que a depressão, mesmo que mais comum entre as mulheres, tenha maior gravidade em relação aos homens. Não à toa, eles representam cerca de 78% dos suicídios no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. O motivo é claro — as pesquisas indicam que homens são menos propensos a procurar ajuda psicológica.
Mais do que nunca, precisamos reavaliar os valores associados a masculinidade. Aqueles que suprimem suas emoções podem sofrer de uma série de problemas, incluindo comportamentos agressivos, abuso de substâncias químicas e dificuldade nos relacionamentos. Promover uma nova compreensão do que significar ser homem é essencial para melhorar não somente a saúde mental masculina, mas a sociedade como um todo.
Iniciativas de conscientização como o 'Agosto Azul' devem desmitificar a ideia do herói violento de filme americano dos anos 80, e criar ambientes que permitam a demonstração de afeto. E essa educação emocional deve vir desde a infância, ensinando meninos que é normal e saudável expressar suas emoções, e que buscar ajuda é um ato de coragem. O torna um homem, um Homem, não é a capacidade de suprimir suas emoções, mas a habilidade de reconhece-las e lidar com elas de maneira saudável.
A verdadeira masculinidade envolve empatia, vulnerabilidade e a capacidade de se conectar genuinamente com os outros. Esta é uma oportunidade para refletirmos sobre essas questões e promover uma mudança cultural significativa, na qual a saúde mental masculina é valorizada, e homens são encorajados a serem verdadeiramente autênticos. Somente assim podemos avançar para uma sociedade mais equilibrada, onde todos, independente de gênero, podem prosperar.
*Psicóloga com formação pela Universidade Metodista de São Paulo com especialização em Psicanálise do Adolescente, Psicossomática
e Doenças Mentais.