Descendentes do Dragão

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Por Márcio Coimbra*

A população chinesa, em geral, "considera o dragão como um símbolo de sorte e um portador de riqueza. Além disso, os antigos fazendeiros acreditavam que os dragões traziam a tão necessária chuva e água para ajudar em suas plantações". O dragão chinês hoje está mais vivo do que nunca em uma pequena ilha que é sinônimo de liberdade, democracia e prosperidade, chamada de Taiwan.

Taiwan fica localizada na ilha de Formosa (assim batizada pelos portugueses em 1542), ao sul do Japão e ao norte das Filipinas. O governo existente no país é sucessor oficial daquele estabelecido na China em 1911 com o fim da dinastia Qing, última da história imperial chinesa. O modelo democrático de nação, chamado oficialmente desde sua fundação como República da China, elegeu neste ano Lai Ching-te, também conhecido como Wiliam Lai, como seu Presidente para um mandato de quatro anos.

De qualquer forma, o que mais impressiona quando analisamos a República da China, ou seja, Taiwan, é a sua capacidade em produzir desenvolvimento econômico aliado a um modelo de liberdades pleno. É o país mais democrático de toda Ásia e aquele com a maior liberdade de imprensa no continente, com a segunda melhor qualidade de vida do mundo. Com 146 universidades em um território um pouco menor que o estado do Rio de Janeiro, possui a melhor educação dentre todos os países do planeta.

O resultado está expresso em números. Nos últimos 30 anos, o PIB per capita em dólares cresceu 220% (4% ao ano), comparado a 2,5% ao ano da Europa. Em valores absolutos, a produtividade é quase três vezes maior que da China continental e aproxima-se de patamares europeus. Destaca-se no ranking de competitividade do World Economic Forum, no índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation, no ranking de investimentos do Business Environment Risk Intelligence e do Banco Mundial, além de ser um dos ambientes empresariais mais seguros do mundo, segundo a The Economist.

Além de tudo, estamos falando do principal e mais importante produtor de microchips do mundo, componente essencial da economia digital que vivemos. Atualmente 66% da produção mundial está em Taiwan, com 56% destes semicondutores saindo da lavra da TSMC. O impacto no mercado de capitais é avassalador: A proporção de tech na bolsa é de quase 60%, batendo com facilidade o Brasil, com apenas 1%, Europa, com tímidos 7%, e até os EUA com 37%. Isto é o resultado de educação, inovação e tecnologia. A tecnologia taiwanesa está presente em nossos smartphones, televisores, videogames e computadores, o que significa que todos carregamos um pouco de Taiwan todos os dias.

A manutenção da soberania da ilha, constantemente ameaçada pelo governo de Pequim em tempos recentes, é essencial para a estabilidade econômica internacional. Além do mais, o país asiático segue sendo o farol de uma sociedade virtuosa, aberta e moderna para Ásia, cada vez mais necessária e essencial em momentos delicados como este vivemos, com a ascensão de inúmeras autocracias ao redor do mundo.

Isto tudo nos leva a crer que os reais descendentes do dragão, que ressurgiu na bandeira nacional durante a Dinastia Qing, símbolo de poder oriental, estão nesta pequena ilha de grandes virtudes, uma China próspera e democrática, que sucedeu em 1911 ao último dos grandes imperadores do país e que hoje honra sua história e tradições.

*Presidente do Instituto Monitor da Democracia e Conselheiro da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal