PE: morrem 80% dos corais da maior reserva marinha

Degradação dos recifes está mais veloz desde o início de 2024

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Nos últimos seis meses, cerca de 80% dos corais localizados entre os litorais de Pernambuco e Alagoas morreram, conforme dados do Projeto Conservação Recifal, uma organização não governamental que monitora a região há uma década. O cenário crítico foi observado na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, que se estende por 130 quilômetros, de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, até Paripueira, na Grande Maceió. A região é considerada a maior unidade de conservação marinha do Brasil, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação.

O processo de degradação dos corais, embora já presente há alguns anos, se intensificou desde o início de 2024. Em maio, as previsões indicavam que um terço das espécies de corais da APA poderia desaparecer até dezembro. Entretanto, os danos ocorreram de forma muito mais acelerada. O branqueamento, conforme especialistas, é resultado do estresse que os corais sofrem com o aumento da temperatura das águas, afetando as zooxantelas, microalgas que habitam os corais e são responsáveis por sua coloração. Quando as zooxantelas morrem ou são expulsas, os corais perdem a cor e ficam vulneráveis, muitas vezes levando à morte. Múcio Banja, professor de oceanografia da Universidade de Pernambuco e pesquisador do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (Iati), explica que o branqueamento nem sempre resulta na morte imediata dos corais. "A parte branca que vemos é o esqueleto dos corais, formado por carbonato de cálcio. Quando os corais perdem suas microalgas, essa estrutura se torna vulnerável. Se as condições ambientais não melhorarem rapidamente, a tendência é que o coral morra em pouco tempo", afirma o pesquisador. Banja destaca ainda que os corais desempenham um papel crucial no equilíbrio do ecossistema marinho, servindo de habitat para uma vasta gama de espécies. Além disso, eles atuam como uma barreira natural, protegendo as costas de erosão e tempestades. A situação, de acordo com a comunidade científica, é agravada pelo fato de que 2024 já é apontado como o ano mais quente da história, reflexo direto das mudanças climáticas. "O que estamos presenciando é sem precedentes. A mortalidade dos corais chegou a cerca de 90% em algumas áreas", alerta o pesquisador do Projeto Conservação Recifal.