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América do Sul: Consolidação como principal produtor de celulose não é acaso

Por Rafael Barisauskas*

A América do Sul, sobretudo Brasil, Chile e Uruguai, tem se consolidado como principais fornecedores globais de celulose e produtos derivados no mercado internacional. A posição alcançada é fruto da combinação de fatores naturais intrínsecos à região, como clima favorável, disponibilidade de terra adequada e espécies adaptadas, e altos investimentos em pesquisa, desenvolvimento, tecnologia e práticas sustentáveis por parte dos produtores.

A supremacia da região deve aumentar ainda mais nos próximos anos, com a entrada do Paraguai e possíveis investimentos na Argentina (potencialmente promovidos por uma recente reforma institucional, o RIGI - Regime de Incentivo a Grandes Investimentos), mostrando como as cadeias globais de valor podem promover integração e desenvolvimento econômico quando bem executadas.

A produção global de celulose, seja ela integrada ou de mercado, ficou praticamente estagnada nos últimos 20 anos, atingindo cerca de 166 milhões de toneladas, em 2023 (dados da Fastmarkets RISI). Já a produção total de celulose na América Latina mais do que dobrou nesse período, passando de 14,1 milhões de toneladas em 2004 para mais de 33 milhões de toneladas, em 2023 (cerca de 20% da produção global), reflexo do aumento na capacidade produtiva sobretudo no Brasil, mas também no Chile e Uruguai.

A sustentabilidade tem se tornado um diferencial competitivo para a América do Sul, sendo que a indústria de celulose na região tem investido em práticas de manejo florestal sustentável e rastreabilidade, que não apenas atendem às expectativas do mercado, mas também garantem a preservação da biodiversidade e a recuperação de áreas degradadas de forma eficiente. Isto ganha ainda mais relevância às vésperas da vigência da EUDR - a regulação europeia anti-desmatamento, que deve afetar os mercados globais de produtos de uma forma generalizada ao impor restrições mais duras para a venda de produtos na região.

*Atua como professor universitário de economia na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP). É mestre em Economia pela universidade KU Leuven, na Bélgica, focando sua pesquisa em análise das cadeias globais de valor na indústria de papel e celulose.