Por Jessica Cuptchik* e Christine Lourenço**
A profissão docente no Brasil enfrenta desafios históricos. Dados recentes do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) apontam uma redução de 11% nas matrículas de cursos de formação de professores entre 2011 e 2021, indicando um iminente "apagão", principalmente em disciplinas como Física, Química e Matemática, áreas já marcadas pela escassez desses profissionais. No entanto, o futuro da carreira também pode apresentar novos horizontes, abrindo portas para outras possibilidades no mercado de trabalho.
Dados do estudo "Educação e Tecnologia: Cenário Brasileiro" da Fundação Lemann (2023) indicam que o Brasil experimentou um crescimento de 43% na demanda por plataformas de ensino digital entre 2018 e 2022. Isso amplia as oportunidades de trabalho para professores que conseguem alinhar suas habilidades pedagógicas com o desenvolvimento e o uso dessas ferramentas digitais.
Professores com experiência em sala de aula também são cada vez mais requisitados em funções administrativas dentro do setor educacional, o que indica a possibilidade de outro caminho de carreira. Segundo o "Panorama da Educação Brasileira", de 2022, publicado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), 65% dos diretores e coordenadores escolares começaram suas carreiras como professores. Esse caminho demonstra o potencial dos docentes em ocupar cargos de gestão, já que habilidades fundamentais para isso — como comunicação clara e mediação de conflitos — são desenvolvidas diariamente na rotina de trabalho do professor.
Como exemplo prático, existem diversos casos no maior grupo de educação básica do Brasil, o Grupo Salta. Bruno Elias, o CEO, veio de sala de aula, começando a carreira como professor de Física de turmas preparatórias para o IME (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e para o ITA (Instituto Militar de Engenharia). De 14 membros que compõem a liderança executiva da companhia, 10 deles foram professores por mais de uma década ou ainda atuam na profissão. Além disso, 100% das lideranças pedagógicas também estão em sala de aula. Isso mostra que pensar e decidir pela educação sem entender a realidade escolar é praticamente impossível.
Ainda nesse sentido, também cresce a necessidade de docentes capacitados para atuar na formação continuada de outros professores e a busca por profissionais especializados em inovação pedagógica, dadas as características marcantes das novas gerações, como intensa conexão tecnológica e dispersão devido à quantidade de estímulos a que estão expostos.
Nesse cenário, o fato é que as diferentes vertentes de atuação para professores no Brasil tendem a se expandir à medida que cresce a demanda por educação de qualidade adequada às características das novas gerações, tanto no setor público quanto no privado. O uso de tecnologias digitais, a valorização da formação continuada e a crescente demanda por práticas pedagógicas inovadoras oferecem novas possibilidades para os professores.
Ao abrir a perspectiva da carreira docente para caminhos que extrapolam a sala de aulas, o setor educacional pode, finalmente, encontrar alternativas para atrair e manter talentos. Reimaginar a docência como uma profissão dinâmica e cheia de oportunidades, tanto dentro quanto fora da sala de aula, é um passo importante para revalorizar a carreira e tornar o futuro educacional mais promissor para todos.
*Vice-presidente de Gente e Gestão e Responsabilidade Social do Grupo Salta
**Diretora de Ensino do Grupo Salta