A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) realizou uma cerimônia marcante para recepcionar os primeiros Agentes Indígenas de Cultivo (AIC), que atuarão no projeto "Interculturalidade e Farmácias Vivas no SUS Ceará". A iniciativa selecionou oito bolsistas de cinco etnias indígenas distribuídas em quatro territórios do estado, com o objetivo de cultivar, coletar, processar e armazenar plantas medicinais diretamente nas comunidades.
Saberes integrados
É a primeira vez que a Sesa incorpora uma equipe formada por indígenas, promovendo a valorização dos saberes ancestrais. A cerimônia começou com palavras de acolhimento e o ritual do Toré, manifestação cultural sagrada das etnias do Nordeste. A secretária-executiva da Atenção Primária e Políticas de Saúde da Sesa, Vaudelice Mota, destacou a relevância do projeto: "Estamos articulando saberes científicos e culturais da ancestralidade indígena, recuperando a relação entre saúde e natureza em tempos de mudanças climáticas. Essa interlocução é essencial para repensarmos como cuidamos do meio ambiente." Para Fernanda Cabral, coordenadora de Políticas de Assistência Farmacêutica e Tecnologias em Saúde (Copaf), o projeto reafirma a liderança do Ceará no uso de plantas medicinais no SUS:
"Queremos sensibilizar a sociedade para consolidar o cuidado fitoterápico no estado, fortalecendo o SUS por meio da ciência, da ancestralidade e da mãe natureza."
Vozes indígenas
Entre os bolsistas, Isabel Morais, de 18 anos, da etnia Tapeba, vê na iniciativa uma oportunidade de unir sua graduação em Farmácia com os projetos comunitários. "É muito importante trabalharmos com plantas medicinais e estarmos ativas nos movimentos da nossa comunidade," afirma Isabel. Já Lucilene de Oliveira, 41, também Tapeba, compartilha sua experiência com plantas medicinais. Autora de um livro em parceria com um grupo de mulheres, ela enfatiza o valor de transmitir os conhecimentos para as futuras gerações: "Se o conhecimento morrer comigo, ele se perde. Quero expandir esse saber para os jovens." O programa busca promover o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, incorporando conhecimentos tradicionais e fortalecendo a territorialidade.