O semiárido nordestino, que enfrenta desafios históricos relacionados ao acesso à água, receberá um novo impulso com a implementação de 50 mil cisternas pelo Programa Cisternas, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). O anúncio foi feito pelo ministro Wellington Dias na última semana, em Aracaju, Sergipe.
A iniciativa contará com um investimento de R$ 500 milhões para melhorar as condições de vida das famílias na região. O programa prevê a instalação de 46 mil cisternas para consumo humano, com capacidade de até 16 mil litros, além de 4 mil cisternas de "segunda água" para uso produtivo, destinadas à agricultura familiar. Também será realizada a recuperação de 2,5 mil equipamentos já instalados. "Essa integração com estados, municípios e entidades da sociedade civil tem trazido bons resultados", destacou o ministro.
Edital e seleção
O edital para organizações da sociedade civil interessadas em executar o projeto já está aberto, e as propostas podem ser enviadas até 5 de janeiro. Estados como Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Minas Gerais receberão as cisternas diretamente. No Maranhão, Sergipe e Rio Grande do Norte, além das cisternas, haverá serviços de acompanhamento familiar para fomentar a inclusão social e produtiva. O resultado final da seleção será divulgado em 3 de fevereiro, e os projetos deverão ser executados em até três anos. Desde sua criação, em 2003, o Programa Cisternas tem sido uma solução acessível e eficaz para mitigar os efeitos da escassez hídrica no semiárido nordestino.
A história de dona Josefa Santos de Jesus, agricultora e guardiã de sementes crioulas de Sítio Alto, em Simão Dias, Sergipe, ilustra bem o impacto do programa. Moradora de uma comunidade remanescente de quilombos, ela conta que a chegada das cisternas mudou completamente sua rotina.
"Antes, gastávamos muito tempo para buscar água longe, mas agora temos mais qualidade de vida. Podemos nos dedicar à lavoura, aumentar a renda e cuidar melhor das crianças", relata Josefa. Sua comunidade, composta por 390 famílias que dependem da agricultura, enfrentava sérias dificuldades, como doenças decorrentes do consumo de água inadequada.
A agricultora destaca ainda o impacto das cisternas de produção: "Quando temos uma cisterna de calçadão, conseguimos trabalhar no quintal produtivo. Isso gera emprego, renda e, principalmente, esperança para permanecer no campo." O ministro Wellington Dias ressaltou o caráter sustentável do programa, que se tornou essencial para regiões onde não há alternativas como água de subsolo ou adutoras. "Esse é um modelo simples, eficaz e que empodera as comunidades, pois elas mesmas fazem a manutenção das cisternas", afirmou.
Com foco no desenvolvimento rural e na permanência das famílias no campo, a nova etapa do programa promete continuar transformando o Nordeste. A iniciativa não apenas proporciona acesso à água, mas também impulsiona a produção agrícola.