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Grafismos indígenas se tornam patrimônio do Brasil

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional reconheceu o Kene Kuï, conjunto de saberes e técnicas dos grafismos do povo Huni Kuï, como patrimônio cultural do Brasil. A decisão foi tomada na 107ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, realizada em Brasília.

O pedido de registro do Kene Kuï foi apresentado ao Iphan em 2006 por organizações e representantes da comunidade Huni Kuï. O reconhecimento foi concedido por unanimidade pelo conselho, que é responsável por avaliar pedidos de tombamento e registro de bens culturais no país.

Antes do pedido formal de registro, os Huni Kuï já haviam documentado os grafismos com apoio de entidades indigenistas e de programas de incentivo à cultura.

Apesar disso, ainda havia preocupação com a preservação da prática, que estava em desuso entre jovens em algumas aldeias, enquanto usos considerados indevidos se tornavam mais frequentes.

Com o reconhecimento, o Iphan desenvolverá, junto às comunidades, políticas de proteção do Kene Kuï.

Entre as ações previstas estão oficinas, pesquisas de campo e consultas públicas para garantir a transmissão dos conhecimentos e fortalecer a cultura do povo Huni Kuï.

História

De acordo com a comunicação do Governo Federal, o Kene Kuï é um sistema de produção gráfica presente em tecelagem, cestaria, pintura corporal, cerâmica, produção de redes e miçangas.

Os grafismos possuem um valor simbólico e representam conhecimentos sobre cosmologia, relações sociais e rituais do povo Huni Kuï.

As técnicas são transmitidas principalmente por mulheres, chamadas de "aïbu keneya", que ensinam os padrões visuais por meio de práticas orais, cânticos e rituais.

Ainda segundo a comunicação do Governo Federal, o povo Huni Kuï habita a Amazônia Ocidental, na fronteira entre Brasil e Peru, estando presente principalmente no Acre e no sul do Amazonas.

Durante os séculos 19 e 20, enfrentou violência e perda de espaço territorial devido à exploração da borracha.

A arte dos grafismos resistiu a esse período, mantendo-se como elemento essencial da identidade do grupo.