As militâncias pelo PDT e pelo turismo do Rio foram duas causas que nortearam a vida de Trajano Ricardo Monteiro Ribeiro, que faleceu na terça-feira (28), aos 78 anos. O velório foi no dia do aniversário do Rio, às 11h na Capela Celestial do Crematório Memorial do Carmo, a cremação às 14h. Natural de Erechim (RS), Trajano Ribeiro, botafoguense, formado em Direito pela PUC do Rio, deu os primeiros passos na vida pública aos 17 anos, participando do movimento estudantil no Grêmio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Também integrou o batalhão estudantil em defesa da posse de João Goulart.
A defesa da democracia e das causas sociais o fez se aproximar de Brizola, tornando-se companheiro de militância política. Ajudou o ex-governador do Rio em diversos momentos de seu exílio durante a ditadura militar no Brasil. Ao lado de Brizola, foi um dos signatários da Carta Lisboa, em maio de 1979, que marcou a fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Trajano se orgulhava dessa amizade e sempre ressaltava o quanto Brizola foi importante para o país. Classificava os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) como a maior inciativa educacional já implementada no Brasil. Foi autor do livro sobre a vida do político, em parceria com Clóvis Brigagão.
Acreditava na força da atividade turística como uma gigantesca cadeia produtiva, fundamental para gerar trabalho e renda, bem como desenvolvimento para o país. Costumava dizer que nenhum outro setor da economia tinha tal reflexo na economia como um todo, pois o turismo movimentava diversos outros setores, como transportes, cultura, construção civil, indústria têxtil, entre outros. Foi secretário estadual de Turismo do Rio de Janeiro (1983/1984), secretário municipal de Turismo (1984/1986) e presidente da Riotur (1984/1986 - 1989/1992). Ao longo de suas gestões, trabalhou para que o Rio sempre estivesse representado nas principais feiras de turismo nacionais e internacionais, para consolidar a cidade, bem como o estado, como destino do turismo de lazer, mas também de negócios, sediando eventos, seminários e congressos.
À frente do Turismo, apoiou inúmeros projetos e ações culturais, como a criação do Rio Cine Festival, em 1984, que anos depois se tornou o atual Festival de Cinema do Rio. Em 1994, para ajudar na promoção da primeira edição do Búzios Cine Festival e da inauguração do Gran Cine Bardot, convidou o elenco do filme Cinema Paradiso, vencedor do oscar de melhor filme estrangeiro em 1990, para participar de uma exibição gratuita na Praça Santos Dumont. Organizou a promoção internacional da celebração dos 25 anos da Bossa Nova, com o maestro Tom Jobim. Também foi um dos responsáveis pela vinda de Paul McCartney em 1990, que marcou a retomada de shows internacionais no Rio de Janeiro.
No carnaval, entre os principais legados está a implantação da informatização na venda dos ingressos para o desfile das escolas de samba, que ajudou a reduzir a ação dos cambistas. Em paralelo a ações de modernização da festa popular, também prestigiou o passado, ao promover apresentações com artistas célebres do quilate de Marlene, Emilinha Borba, Peri Ribeiro, João Roberto Kelly, ente outros.
Foi responsável por organizar todo o receptivo da Rio 92, conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento, que recebeu cerca de 180 chefes de Estado, entre eles o norte-americano George H. W. Bush, o francês François Mitterrand, o britânico John Major e o cubano Fidel Castro.
Trajano ainda foi diretor do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj) e membro da executiva nacional do PDT. Ele faleceu de infarto miocárdio . Deixa a esposa Maria Ribeiro, os filhos Luciana e Augusto e os três netos Maria Julia, Pedro e João.
Trajano Ribeiro, dizia que o Rio é maior que a violência, e foi responsável pela operação do sambódromo quando funcionava o CIEP.
Tão difícil acompanhar essas perdas. São pessoas criativas, entusiastas, de bem-com-a-vida, que, saem do nosso convívio material, diminuem um tanto da nossa alegria… como uma ferida aberta…Ele promoveu cinema, esportes, natureza, sustentabilidade econômica, danças, MPB, amava o Rio e o seu PDT. O mundo ficou mais pobre e sem graça.
*Jornalista