EDITORIAL | As joias do Bento e o segredo das arábias
A imagem das joias das arábias está fazendo um estrago devastador na imagem do Bolsonarismo, construído na base da honestidade de Jair Bolsonaro. Não há nada que possa ser imputado até agora ao ex-presidente, além do dolo de ter se cercado por assessores tolos e omissos, incapazes de avaliar o efeito nefasto deste festival de erros. Culpados existem. Estão todos no grupo de puxa sacos ou de ministros que sempre babaram o saco presidencial.
Não há posse e nem desejo do casal Jair e Michelle em ter a propriedade deste tesouro das arábias, diferente de quem já foi fotografado com relógio milionário no pulso, e falando para as multidões. Alguns pontos estão sendo sabiamente utilizados pela mídia de oposição e exterminadores do Bolsonarismo. O primeiro deles é quantificar em R$ 16 milhões os presentes árabes. O laudo da receita fala em um milhão de dólares. Alguém já quantificou isso? O segundo, é a incapacidade de reagir do ex-presidente, sem contar com a ajuda de uma máquina de resposta profissional. O PL se acovarda.
Sem encontrar algum ilícito de corrupção nos quatro anos de governo, a tentativa é de criar uma narrativa fantasiosa da propriedade das joias das arábias.
Toda esta história tem realmente um culpado. O ex-ministro e almirante Bento Albuquerque. Ele que pague por trazer de forma não formal este presente. Funcionou como uma mula duplamente ingênua, aceitando transportar nitroglicerina pura e tentar resolver, de forma transversa, o imbróglio que criou. A pergunta que não quer calar e precisa ser feita: qual o presente que o então prestativo ministro de Minas e Energia ganhou dos árabes e do seu colega saudita? Talvez esteja aí a origem das trapalhadas que ele causou e meteu seu chefe, que nunca quis e nunca viu o presente, nem pediu ou esperou. É a primeira vez que uma imagem forte, de apelo e de compreensão popular, atinge o Bolsonarismo. Não adianta reagir.
Vale lembrar que Lula e Dilma também tiveram de devolver presentes de signatários estrangeiros. Os culpados devem ir para o pelourinho. E as joias de Bento? A ginástica alfandegária escondia algo? Uma autoridade não agiria como mula e nem sairia da Arábia Saudita sem ter na mala o seu próprio presente.
*Diretor de Redação do Correio da Manhã