Em 03 de outubro de 1953, há 70 anos atrás, foi fundada a Petrobrás, atualmente a maior empresa do país. Para marcar a data, lembramos aqui de como o desfile das escolas de samba abordou a empresa e suas atividades.
Ainda que não tenhamos visto um enredo específico sobre a empresa, ela sempre esteve presente nos desfiles, nas mais diversas épocas. Por muitos anos a Petrobrás também foi uma das patrocinadoras do desfile.
A primeira menção para a empresa veio logo após a sua fundação, em 1956. Nesse ano, a Estação Primeira de Mangueira teve "O Grande Presidente" como enredo, homenageando Getúlio Vargas, que havia cometido suicídio em 1954. Lembrando dos feitos do presidente, o samba de Padeirinho registra que: "Candeias a cidade petroleira; Trabalha para o progresso fabril; Orgulho da indústria brasileira; Na história do petróleo do brasil"
A exploração do petróleo na Bahia também apareceu na homenagem que o Acadêmicos do Salgueiro (em 1969) fez para esse estado. E dessa vez a Petrobras deu sorte, visto que o Torrão Amado foi o grande vencedor daquele carnaval. O samba, de Bala e Manoel Rosa, cantado até hoje, lembra que a Bahia tem "o petróleo a jorrar".
Os anos 1970 assistiu a uma mudança importante nos enredos, visto que começaram a perder força as narrativas laudatórias sobre a história do Brasil e surgiram enredos com caráter mais onírico e também de temas do cotidiano. Antes dessa mudança de chave, ainda deu tempo da Beija Flor falar sobre os feitos dos governos ditatoriais militares, no carnaval de 1974, e elogiar o petróleo.
Em 1980 tivemos a Petrobrás sendo citada literalmente, no samba para o enredo "Coisas Nossas", da Mangueira. Ainda nessa década, em 1985, o Salgueiro homenageou Getúlio Vargas e a exploração do petróleo foi novamente lembrada. A relação entre Getúlio e petróleo iria novamente para a avenida com Portela, no carnaval do ano 2000, quando todas as escolas se debruçaram sobre o Brasil.
A partir dos anos 1990, vimos o "jorrar" de enredos patrocinados. É nessa década que o petróleo vira enredo ("Da terra brotei, negro sou e ouro virei"), com a Caprichosos de Pilares em 1995. Na primeira década do novo século, outras formas de energia, como o gás natural, os biocombustíveis e a energia eólica, também acabaram passando pela Sapucaí. É o caso da União da Ilha (2001), Caprichosos de Pilares (2007), Mangueira (2005), Grande Rio (2008), esses dois últimos casos com patrocínios explícitos da Petrobrás, e Viradouro (2009), aqui misturando novamente com o tema Bahia. Em 2013, a Grande Rio foi pra avenida com um enredo totalmente alinhado à demanda do governador do RJ sobre a questão dos royalties do petróleo.
Após esse momento, com a crise econômica e a (re)ascensão de um moralismo que combate qualquer tipo de patrocínio público para o carnaval, os enredos patrocinados minguaram. Para a qualidade dos desfiles, foi algo positivo, pois as escolas deram espaço para enredos mais culturais, contando a história de diversos orixás, de personagens esquecidos da nossa história, etc. Uma renovação que foi muitíssimo para a festa. A Petrobrás acabou ficando de fora desses carnavais.
Ao completar 70 anos, a empresa enfrenta vários desafios. Um deles é bem explícito: ser uma empresa de petróleo num momento de necessária renovação das fontes de energia no mundo. E a Petrobrás, pela expertise construída nessas 7 décadas de atuação, tem condições de ser uma empresa de energia alicerçada em paradigmas contemporâneos. Se renovar, sem perder aquilo que a define, como fizeram as escolas de samba recentemente.
*Sociólogo e doutorando em Serviço Social