Por: Cláudio Magnavita*

Coluna Magnavita | O bilionário negócio dos cursos de medicina. De uma só vez 95

Ministro Camilo Santana favorece estados de aliados em vez de priorizar a qualidade do ensino | Foto: Luis Fortes/MEC

As entidades médicas do Rio ficaram perplexas com o anúncio, realizado pelo ministro da Educação, o ex-governador do Ceará, Camilo Santana, no último dia 04 de outubro, da autorização para a criação de 95 cursos de Medicina no país, ou seja, 5.700 vagas.  

A notícia animou muito mais o mercado financeiro, do que a classe médica. Os cursos de Medicina são o filé mignon das instituições particulares de ensino. Muitas delas se mantêm através da carteira destes cursos, negociadas no mercado e dadas como garantia de operações bancárias. A conta é simples, uma mensalidade em uma escola privada vai de R$ 6.000,00 a R$ 20.000,00, dependendo da instituição. É um curso caro pelo alto custo do corpo docente e laboratórios, em alguns casos, também pela existência de hospitais escolas, mais comum nas faculdades públicas. Cada turma autorizada é de 60 alunos e se for considerada a mensalidade mínima de R$ 6.000,00, serão R$ 360.000,00 por mês, ou R$ 4.320.000,00 por ano. Se este volume for multiplicado por 95, serão injetados no mercado privado de ensino R$ 410.400.000,00, ou seja, R$ 2,5 bilhões em 6 anos, tempo médio de formação, só com esta primeira fornada. Lembrando que anualmente há 5.700 novos estudantes. Em quatro anos, a massa será de R$ 10 bilhões, em cálculos cumulativos.

Se o setor financeiro comemora e algumas entidades de ensino festejam a safra de ouro que passarão a colher, as entidades ligadas à classe médica, como membros da Academia Brasileira de Medicina e Conselhos, começam a se mobilizar para alertar contra alguns aspectos da decisão e de algumas assustadoras coincidências. Para compreender a preocupação, é necessário conhecer a distribuição geográfica dos 95 cursos autorizados. A Bahia, que por coincidência é o berço eleitoral do PT e responsável pela eleição do presidente Lula, é a campeã de novos cursos: 15. A terra do ministro da Casa Civil, Rui Costa, sai com 900 vagas. Em quarto lugar, a terra do próprio ministro da Educação, Camilo Santana, com 10 novos cursos e 600 vagas. Nestes dois casos, são 25 novos cursos de formação de médico. A primeira questão é assustadora: onde serão recrutados professores, espalhados em diferentes regiões, de cada um destes estados? Haverá hospitais escolas para este volume? Qual a qualidade dos médicos que serão formados nesta tsunami de cursos de medicina na Bahia e no Ceará?

Para apimentar esta angústia dos membros destas entidades, é só passear na distribuição das outras unidades federativas.  Em terceiro lugar, estará o Pará, do aliado Helder Barbalho, com 11 cursos e 660 vagas. Em quinto, o Maranhão com 9 cursos e 540 vagas. Existem no mercado professores qualificados neste dois estados para uma fornada de quase 20 novas escolas médicas?

O estado de São Paulo, berço histórico do PT, terra do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ficou em segundo lugar com 13 cursos e 780 vagas. Esta fornada vai fazer novos milionários na indústria da educação paulista. Já o Rio, que concentra cursos que formam especialistas e professores para a área médica, recebeu apenas um. A cidade escolhida foi Niterói que, por coincidência, é comandada pelo PDT, do ministro Carlos Lupi.

Instituições como a PUC-Rio, universidade ligada à Igreja Católica, que fornece bolsas de estudo por obrigação estatutária, coisa rara nos cursos de medicina, aguardam há anos a possibilidade de criar a sua própria formação médica. Ela é rechaçada por esta canetada que criou 95 escolas de medicina em todo o Brasil e deixou apenas uma vaga para todo o estado do Rio.

Por ter sido capital da República e sediar escolas públicas federais, o Rio não merecia ser punido. A medicina da PUC atrairia os melhores professores do país e grande parte de membros da Academia Brasileira de Medicina. Estaria formando médicos de excelência e não açougueiros.  

Cadê a bancada fluminense na Câmara? Cadê os nossos senadores? Existem fatores que vão além da desigualdade regional. Precisamos de mais médicos, porém, de profissionais qualificados e não formados em McDonald's acadêmicos.

O pior é que este cenário beneficia um negócio milionário e arranca sorrisos dos bancos, principalmente, a garantia da inadimplência zero para as escolas privadas. Algo de muito estranho está por trás desta decisão, que beneficia diretamente os estados do Nordeste e, de forma especial, do próprio ministro Camilo Santana.

 

*Diretor de Redação do Correio da Manhã 

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