Por: Fernando Araújo*

Transtorno do Espectro Autista: Não confundam pragmático com falta de empatia.

Cerca de um terço dos indivíduos com autismo não se desenvolvem o suficiente para ter uma fala natural e que satisfaça suas necessidades diárias de comunicação | Foto: Creative Commons

Uma das lendas criadas em torno da característica dos autistas é a falta de empatia. Tal erro consome famílias e coloca em pauta um assunto controverso. Diariamente, deparo-me com o assunto e comentários inflamados alimentando a discussão.

Não confundam pragmático com falta de empatia.

Grande parte do incômodo relatado nas redes sociais vem de pais, familiares ou profissionais que têm contato direto com autistas. Tenho meu ponto de vista pautado na literatura, mas, principalmente, na relação e desenvolvimento que vejo no meu filho. Fica muito claro que meu filho tem empatia, demonstra sentimentos e, ao mesmo tempo, se torna um sujeito prático e desligado do comportamento dependente que a maioria das pessoas insistem em colocar como padrão. Não é preciso que ele externalize a todo o momento o amor que sente por mim.

Em parte, a sociedade alimenta esse discurso, pois há uma crise de relacionamento que alimenta uma indústria de gerenciamento de relacionamentos. Vivemos a era de solidão, impulsionada pela crescente maneira de demonstrar conquistas. Ser feliz é estar rodeado de amigos, lugares paradisíacos e uma rotina extremamente equilibrada. Na verdade, o ser humano é um ser em eterna busca. A busca pelo nirvana diário e absoluto.

Uma característica é a ampla carência que, em sua maioria, necessita de uma forma de aprovação de amor, afeto e atenção para criar um bem-estar imediato.

Meu filho ainda é uma criança, portanto, diariamente vejo um indivíduo em formação. Personalidade, funções motoras, perspectivas, pontos de vista, entre outras, brotam e me fazem um pai orgulhoso.

Minha maior preocupação é criar um ser humano ciente do seu papel na sociedade, livre das amarras da dependência emocional.

Vê-lo expressar vontades, elaborar pontos de vista e tecer comentários, por mais secos que possam parecer, sobrepõem qualquer desejo de ver viver uma cena Hollywoodiana de amor entre pai e filho.

Um abraço silencioso tem mais significado do que ensiná-lo a repetir, ao meu comando, palavras ao acaso, que só fazem sentido para mim.

Recentemente, ao deixar uma brincadeira, ele me seguiu com aquele olhar tenro e disse, calmamente: pai, eu preciso brincar com alguém.

Qual o peso dessas palavras? Impossível medir, pois trazem embutidas a complexidade de um pensamento, a capacidade de elaborar e externalizar um ponto de vista e, mais importante, a verdade de se colocar frente a pessoa dedica 100% do seu tempo.

Sim, eu fiquei feliz e espero que siga nesta direção.

Sim, ele tem empatia.

Sim, ele é pragmático e desprendido de dependência emocional.

*Jornalista

 

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