Por: Barros Miranda*

Nada de novo no front

Combater a milícia é apenas cortar a ponta do iceberg | Foto: Divulgação

Não há novidade, para a história da América Latina, o que acontece no Equador hoje. Há décadas, grupos guerrilheiros dominam países de uma forma oculta e, quando cutucados, mostram sua força. A Colômbia já sofreu isso até um acordo de paz com a FARC ser firmado em 2016, fazendo o então presidente do país, Juan Manoel Santos, receber o Nobel da Paz naquele ano.

O Brasil não tem guerrilheiros aos moldes do colombiano e do equatoriano, mas os chamados traficantes – e agora narcotraficantes – e os milicianos podem ser comparados aos grupos desses países latinos. Antigamente, o Brasil era dominado por três facções: Primeiro Comando da Capital, Comando Vermelho e Terceiro Comando. Hoje, não se sabe ao certo se elas ainda existem, mas seus líderes continuam na ativa, sob as novas premissas, orquestradas pela milícia.

Pode até parecer coincidência, mas é fruto justamente deste acordo de paz de 2016. Desde 2017, os membros da facção vem migrando para o Equador, deixando o pequeno país da América do Sul um verdadeiro barril de pólvora, pronto para explodir. E o porquê do país? Sua localização geográfica. Fazendo fronteira com a própria Colômbia e o Peru, nações estratégicas no narcotráfico, além de ter uma proximidade com o Canal do Panamá, o país virou a galinha dos ovos de ouro dos meliantes.

O caos que acontece no Equador é apenas um sinal do que pode vir a acontecer caso as autoridades continuem a fazer vista grossa aos narcotraficantes aqui no Brasil. Já teve um sinal, no Rio de Janeiro, com os criminosos queimando ônibus e provocando um nó na cidade. Além disso, rebeliões em presídios no Rio Grande do Norte, orquestradas por chefes de facções rivais presos em outros estados, também servem de alento de como esses traficantes têm poderes inimagináveis.

O grande desafio não seria apenas combatê-los, e sim encontrar uma forma de asfixiá-los financeiramente. Toda operação, por mais minuciosa que venha a ser, deixa rastro. E seguindo esses passos, podem ser encontradas a ponta do iceberg, pois, caso não saibam, a grande montanha flutuante de gelo é muito mais do que a ponta que fica sobreposta nas águas. É uma verdadeira montanha de gelo que navega nos oceanos.

Leis mais rígidas, polícias com equipamentos de primeira linha e com suporte de tecnologias de ponta também são métodos e meios para intimidar esses traficantes. Porém, até a própria corporação necessita de segurança, para não ter o maquinário roubado e utilizado contra ela mesma.

Assim, o grande desafio no combate ao crime organizado vai além daquilo que pode estar no pensamento do senso comum. O que deve ser feito, sim, é um trabalho de inteligência eficiente e perspicaz, para achar os chefes das quadrilhas e asfixiar todo o seu fornecimento financeiro e econômico, para ele não ter mais verba ao sair da penitenciária, já que o sistema não permite prisão perpétua e há brechas na lei que relaxam as penas, assunto a ser debatido em outra oportunidade.

 

*Historiador e jornalista

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