Por: Marcos Salles*

A difícil tarefa do eleitor

Eleitores tem a difícil tarefa de escolher candidatos que cumpram as promessas feitas. Entrega tem sido pouca e enriquecimento de parlamentares desproporcional ao reflexo da população que carece de serviços básicos. | Foto: Agência Brasil

O caminho natural da política são os candidatos a futuros gestores prometerem algo que de tal sorte convença aqueles que irão depositar na urna as suas expectativas de melhoria, uma condição melhor que a anterior, ou, pelo menos, manter coisas que de alguma forma funcionem relativamente bem. Olhando um pouco para a história do Brasil, fica fácil perceber como é difícil escolher sob a ótica de entrega das promessas que recebemos. Estamos estagnados no tempo, os grandes projetos pararam de existir. Mas por que a política entrega tão pouco aos seus eleitores? Será que não cobramos?

O tempo passa muito rápido e às vezes não nos damos conta do quão pouco o Governo Federal entregou para a população. Qual foi a última grande e verdadeira mudança que tivemos do Governo Federal? O SUS é o melhor exemplo. Existia o INPS que, além de ser uma previdência, oferecia atendimento de saúde para seus contribuintes. Mas muita gente ficava fora do atendimento. Então, uma revolução separou este órgão em dois: o INSS passou a organizar toda a previdência e foi fundado o SUS, um dos maiores programas de Saúde do Mundo. O médico Hésio de Albuquerque Cordeiro desenhou todo este projeto, que foi promulgado em 1988 pela Nova Constituição e implementado pelo Collor em 1990 sob a batuta do então Ministro Alceni Guerra. Isso foi revolucionário.

Depois disso, após inúmeros fracassos sucessivos de planos de governo, felizmente o Governo Itamar, em 1994,emplacou o REAL, que estabilizou a economia do país e entramos em uma nova história. Tudo que pensar daí para frente, nada mais é que uma cortina de fumaça. Infelizmente, o que vemos nos últimos anos é a falta de continuidade daquilo que o gestor anterior não terminou, abandonando obras no meio do caminho, com total desperdício do dinheiro público.

Gasta-se uma fortuna para mudar nome de projetos de sucesso que funcionam por anos e continuam funcionando apenas com novos nomes, para gerar créditos e pertencimento. Por exemplo, podemos citar que em 1975 Geisel criou o CREDUC (Crédito Educacional), que tinha o objetivo de emprestar dinheiro para as pessoas terem acesso as universidades e pagarem após sua formação. Em 1999, foi rebatizado como FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) que tinha exatamente a mesma função. O que mudou? Nada! Poderia ter sido mudado o foco, ao invés de endividar os jovens para financiar construção de universidades. Poderíamos ter milhões de jovens com cursos técnicos trabalhando. O Brasil está carente de mão de obra em Tecnologia, Elétrica, Civil e outras carreiras. Um erro estratégico violento.

Em 1946, Dutra criou o FCP (Fundo da Casa Popular). Depois, Castelo Branco, em 1964, criou o BNH (Banco Nacional de Habitação) Foi criado, em 2009, o Minha Casa, Minha Vida, que, em 2020, virou Casa Verde e Amarela e, agora, voltou a ser Minha Casa, Minha Vida. Desde 1946 o projeto é o mesmo: financiar casas para as pessoas em vulnerabilidade de moradia. O que mudou? Nada! É a mesma coisa dita de forma diferente, com os mesmos recursos, para a mesma pouca entrega.

Tivemos a transposição do Rio São Francisco, uma obra de grandes proporções, que atravessou duas décadas até a entrega. Mas a polarização fez o desfavor de não contar esta história para os Brasileiros. Temos também o Bolsa família, que pelo ponto de vista social é fantástico, mas que no final ele é reflexo direto da falência da política pública de um País que tem arrecadação de primeiro mundo, mas que tem entrega de terceiro mundo.

Na verdade, nem todos que votam precisam que o político faça alguma coisa. Para alguns, quanto menos a política se mexer, melhor. Mas a classe que mais sofre, que mais precisa, é exatamente a que menos recebe. A máquina pública engole o dinheiro dos tributos e o governo entrega cada vez menos para os vulneráveis. Mais promessas e menos entregas. Mais cortinas de fumaça, mais barulho e menos entregas. Essa é a realidade. Para fazer o básico — saúde, educação e segurança — está difícil. Vemos políticos cada vez mais ricos e a população cada vez mais carente do básico. A tarefa da escolha continua grande, diante de tanta fumaça, de tanta polarização e discussões enfadonhas.

*Jornalista

 

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