Por: Paulo Cézar Caju*

Futebol, um verdadeiro balcão de negócios

Depois que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, concedeu a liminar para Ednaldo Rodrigues, nunca mais se ouviu falar no termo 'eleição' na CBF. | Foto: CBF

Semana que vem começa o carnaval, de fato, por isso, vamos entrar também no clima, Geraldinos, afinal: "sonhar, não custa nada, o meu sonho é tão real...". De fato, o do botafoguense pode não ser, mas o de John Textor, sim. A compra, praticamente casada, de Luiz Henrique para o Botafogo, com a promessa dele ir para o Lyon seis meses ou um ano depois, mostra como o dono da SAF enxerga um clube que tem na sua história grandes craques do futebol mundial, como Didi, Garrincha, Nilton Santos, Zagallo, Amarildo, Quarentinha e outros. Um verdadeiro balcão de negócios.

As vendas de Lucas Perri e Adryelson para o Lyon, com o intuito de liquidar o pouco dos direitos econômicos ou federativos que ainda tinham com São Paulo e Sport, respectivamente, e ficar exclusivamente na mão da Eagle Companhy. Aliás, se Eagle é a tradução de águia, Textor certamente é uma, daquelas que mira sua presa, ataca e vai liquidando aos poucos, saboreando o gosto da vitória.

O botafoguense ano passado sonhou com um título que não conquistava desde 1995; fez sua "estrela de luz; que me conduz; estrela que me faz sonhar (...)", brilhar ainda mais no céu. Mas, no fim, prevaleceu à vontade do empresário e o clube quase nem para a Libertadores foi.

Outro fato que deve ser comentado é esta sina dos jogadores brasileiros quererem ir para a Europa a todo custo. Luiz Henrique foi um que embarcou, não vingou e o clube — Real Betis — quis se desfizer dele a todo custo, desde que pagassem a multa rescisória. Coube ao águia John Textor, e sua sábia lábia, o convencer a vir ao Botafogo, na transação mais cara do clube, podendo chegar a 20 milhões de euros, para melhorar e fazer crescer novamente, para depois embarcar ao Lyon, que briga para não cair no Campeonato Francês. Outros jogadores que seguiram esse caminho, de irem cedo para o Velho Continente, não vingaram e voltaram com toda a pompa foram Gabigol e Pedro, ambos no Flamengo. O primeiro teve quatro treinadores na equipe italiana da Inter de Milão e não caiu nas graças de nenhum; foi para o Benfica, de Portugal, e depois veio para o Flamengo, ganhando mais de um milhão de reais de salário por mês. O segundo saiu do Fluminense para a Fiorentina, da Itália, ficou uma temporada ou uma e meia e foi comprado pelo Flamengo.

E a nossa CBF, a quantas anda? Depois que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, concedeu a liminar para Ednaldo Rodrigues, nunca mais se ouviu falar no termo "eleição". Será que estão esperando à liminar ser votada no plenário do Tribunal para dar andamento aos próximos passos desta novela? Enquanto isso, Ednaldo toca o barco, como se nada tivesse acontecido. Além disso, mais um escândalo de assédio sexual pode vir à tona envolvendo um membro da confederação. Desta vez, quem está na berlinda é o assessor de comunicação Rodrigo Paiva, em um processo protocolado pela diretora de infraestrutura, Luíza Rosa, segundo apurações do jornalista Lucio de Castro, do UOL. Como o caso corre em segredo de justiça, pouco tem se falado sobre ele...

Por fim, o Campeonato Carioca, que de charmoso não tem nada. Quem agradece são os estádios do Brasil afora, recebendo jogos de Vasco e Flamengo, ganhando rios de dinheiro. Mané Garrincha em Brasília, Arena do Amazonas em Manaus e o Mangueirão em Belém foram palcos de duelos dos dois times de tradição. Fora eles, o Almeirão, na Paraíba, também recebeu uma partida do Cariocão. Além disso, essa história de time reserva para dar tempo de pré-temporada ao titulares não cola muito. Na minha época, era todo mundo lutando para estar em campo. Hoje, estar na reserva parece ser bom, pois o salário entra no bolso de qualquer forma. Isso sem falar no tal esquema de rodízio de jogadores, para poupar o desgaste físico. Ora, rodízio até onde sei é na Carreta, Gaúcha, Plataforma, Porcão, Tourão, Mocellin...Isso pode ter dedo das milhões de pessoas que compõem uma comissão técnica, com um tendo que pegar água, outro para fazer passagem, um terceiro para passar spray...

E, claro, não se pode deixar de falar da Copa Africana de Nações, uma das competições mais prazerosas de ver no mundo do futebol. Cinco times da chamada África Norte (Senegal, Marrocos, Tunísia, Camarões e Egito) foram eliminados nas oitavas de final, deixando a competição apenas com equipes da África Negra.

Geraldinos, antes da folia, vamos decifrar os códigos dos analistas de computadores? Ops, comentaristas de futebol...

Pérolas da semana

1 - "Jogo pegado e mordido, entrando pela vertical ou diagonal. Encaixotou o adversário, gerando o jogo pela última linha, passando por dentro, centralizando e chamando o protagonismo para si, atuando na segunda linha". (alguém entendeu?)

2 - "Time desenhado na transição, com marcação alta, dando tapa na orelha (gomos) da bola, agredindo no setor nevrálgico do adversário (daqui a pouco médico será comentarista de futebol) em linha de três ou quatro (melhor falar em jogadores de defesa e de ataque), com ligação direta, atacando o espaço no 3-4-2-1.

3 - "Atacar o espaço com consistência, com ligação direta e formatação aguda, encaixando o time, com saídas de fora para dentro, desencaixando o setor por dentro, com jogador centralizado, dando assistência e fazendo desastre, com alegria nas pernas" (haja caixote para tanta peça de quebra-cabeça)

*Ex-jogador de futebol. Fez parte da seleção do Tricampeonato Mundial no México em 1970. Atuou nos quatro grandes clubes do Rio (Flamengo, Botafogo, Vasco e Fluminense), Corinthians, Grêmio e Olympique de Marseille (França).

 

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